quinta-feira, 19 de maio de 2011

VELOZES E FURIOSOS 5: UMA RELAÇÃO DE AMOR E ÓDIO.

Por Demetrius Farias


Ontem a noite, minha esposa e eu, fomos ao cinema para assistir a um filme. Já fazia algum tempinho que não íamos ao cinema, e aquela noite parecia ser boa para este programa. O filme escolhido para a noite foi Velozes e Furiosos 5: Operação Rio (Fast Five).
Eu me lembro apenas de ter visto o primeiro filme da franquia, Velozes e Furiosos, que, diga-se de passagem, é um bom filme. Também vi o segundo filme, Mais Velozes e Mais Furiosos, que é muito fraco, obedecendo a regra geral das seqüências cinematográficas. O terceiro e o quarto filmes da franquia, Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio, e Velozes e Furiosos 4 foram os filmes que eu não vi, confesso, coisa que também irei remediar em breve. Parece-me que o terceiro filme é o único que apresenta dissonância com o restante da série, coisa que o diretor tentou minimizar ao colocar o ator Vin Diesel para fazer uma ponta na última cena do filme, com o seu personagem, Dominic Toretto. Deixando de lado as críticas a este filme, que foram muitas, segue o quarto filme, trazendo de volta o time que estava ganhando no primeiro filme. Resultado, também recebeu críticas ruins, mas foi bem melhor que os dois últimos.
É neste momento, então, que chego ao cinema e vou assistir o quinto filme, que apresenta a cidade do Rio de Janeiro como cenário da trama.
Não vou me ater aqui a fazer uma sinopse do filme. Quem já assistiu vai lembrar do que eu vou escrever, e quem não viu vai ficar curioso para ver, ou eu vou estragar a surpresa. Para mim não importa, já que eu fiquei com muita raiva do filme, ao mesmo tempo em que também o achei o segundo melhor filme da série, quem sabe até melhor que o primeiro.
O filme, cheio de ação, velocidade, mentiras estapafúrdias (a melhor coisa que tem em Hollywood), tiros, pancadaria e suor, tem como elenco quase todos os principais personagens dos filmes anteriores, e traz mais um novo personagem, Luke Hobbs, interpretado por Dwayne Johnson (The Rock), que a maioria conhece por filmes de ação como O Escorpião Rei e Bem-Vindo à Selva. Não vou negar que quando o vi aparecendo no filme, desejei ver o cara "sair no braço" com Vin Diesel, desejo este que o diretor do filme atendeu. Imagino que ao divulgar o elenco do filme, a maioria dos fãs da franquia deve ter ido a loucura, esperando pelo momento de ver os dois rolando no chão.
Velozes e Furiosos 5 é muito bom, pois é um filme que consegue dar uma boa seqüência lógica ao filme anterior, e é capaz de manter o ritmo até o final, sem apresentar aqueles hiatos tediosos. Explora bem a trilha sonora, indo do Rock e Rap americanos até a música latina e o "batidão" do Rio. É interessante ver que o diretor preocupou-se em contabilizar todo o filme ao seu pano-de-fundo, e assim utilizar trilha sonora brasileira, de famosos cantores e compositores nacionais, como as músicas "Desabafo/Deixa Eu Dizer" do "enmaconhado"  Marcelo D2 ("um exemplo de pessoa" :p), "L. Gelada-3 da Madrugada" de MV Bill, e "Carlito Marron" de Carlinhos Brown. Outra coisa legal foi colocar o povo pra falar português. Sim, galera... no filme o povo falava inglês e PORTUGUÊS!!! Graças...!!! Isso é bom, pois deixa-nos menos irritados com aquela idiotice americana de retratar o Brasil com um país de fala espanhola e que só há florestas. Para tal, muitos atores foram dublados, e alguns dos principais aprenderam falas no script em português, com o máximo de esforço possível para não mostrar aquele sotaque de americano, como no caso da atriz Jordana Brewster, que interpretou Mia Toretto.
As cenas de ação e velocidade são o que dão o tom do filme, e mesmo nos instantes com cenas mais "relax", notasse o que o filme não faz justiça ao título que possui. Perseguições policiais, cofres de banco demolidores, trem que não descarrila da linha, rachas e tiroteio no morro entre o FBI e os "traficas", são algumas das coisas que vocês podem conferir na película.


Mas nem tudo é bom assim. Como eu disse no título, é um filme para amar e odiar, e o ódio tem razões de sobra para existir. Como o filme é uma produção hollywoodiana, deve-se esperar clichês anacrônicos sobre o Brasil e o Rio de Janeiro. Sim, deve-se. E o anacronismo chega a ser irritante e revoltante. Nunca em minha vida tinha assistido um filme que me conquistasse pelos olhos, mas ao mesmo tempo me deixasse tão irritado com a capacidade dos americanos em não fazer a menor questão de aprender sobre o Brasil e retratá-lo como ele realmente é. Além disso, existem problemas no filme que seriam resolvidos se o diretor tivesse a idéia simples de contratar se elenco, compondo-o com atores brasileiros, coisa que não seria difícil. Se o problema fosse a fala do inglês, isso seria uma bobagem, pois o filme tem muitos (muitos mesmo) diálogos e frases em português, o que eliminaria a necessidade de dubladores.
Hernan Reyes (Joaquim deAlmeida)
Já que estamos falando da dublagem, o que temos a dizer? Apesar de notar-se um esforço considerável em eliminar o sotaque americano de alguns atores, usando a dublagem e ensinando português aos atores principais, ainda assim ela é sofrível. O caso mais claro é o do ator Michael Irby (o capanga de Hernan Reyes - ou Reis, como na legenda) que interpreta o personagem Zizi. O português dele ainda é carregado. O mesmo vale para o ator Joaquim de Almeida, que faz o vilão-mor. Nascido em Portugal, atualmente ele vive nos EUA onde é ator. Ele já fez muitos filme falando português, porém os anos nos EUA lhe deixaram com um sotaque terrível e com dificuldades para algumas expressões e gírias. Seu personagem, Hernan Reyes parece ser mesmo um extrangeiro que veio para o Rio de Janeiro a fim de controlar o crime organizado e o tráfico de drogas.
Falando nele, o diretor parece que não sabe nada sobre o Brasil. Em uma das cenas com o vilão, este explica para dois homens em seu escritório que parecem ser políticos ou outras autoridades da cidade do Rio (prefeito e governador, quem sabe?), como os portugueses faziam escambo com os índios com o intuito de colonizá-los e dominá-los. O problema é que ele afirma que isso foi depois dos espanhóis terem chegado aqui e tentado dominar o território brasileiro na base do cacete. Ora... quem estudou um pouco de história do Brasil, sabe que isso não é verdade, mas...!!!
Seria o Trem Bala da Dilma e do Lula???
Outra cena no mínimo hilária, mas de muita ação e mentiras bacanas, é a do assalto ao trem, logo no começo do filme. Parece ser um trem de turismo ou de passageiros, mas o problema é que este tipo de transporte não existe mais no país, o que é uma pena. Infelizmente nosso transporte ferroviário é precário e quase exclusivo ao transporte de cargas. Além disso, o cenário da perseguição e assalto é em um cenário desértico, que nem chega perto de se assemelhar a caatinga nordestina. E para piorar, a rala vegetação, muito mais próxima do Deserto de Mojave, na Califórnia, é cortada por pontes de ferro e cânions de rios, coisa que não existe no Estado do Rio de Janeiro e nem em nenhum outro lugar do país, muito embora eu desejasse muito que ferrovias e pontes como estas estivessem por todo lado.
O Brasil é lindo mesmo. Olha essa ponte!!!
Voltando a cidade do Rio, tem uma outra cena que cita o bairro do Leblon. Cenário predileto de alguns novelistas da Rede Globo, o bairro esconde uma das bases secretas do vilão, porém ele é retratado como um bairro bem pobre, Ora... todos sabemos que o Leblon é um bairro cheio de prédios de apartamentos de luxo e que no seu ar respira-se Bossa Nova.
"Isso aqui é o Brasil!!!"
Entre outras burrices e coisas bizarras, o filme exibe muita prepotência ao retratar os policiais federais americanos. Eles aparecem como os donos do pedaço, mandando e desqualificando a polícia local e botando muita banca. Sobem no morro com armas a mostra e "quatro gatos pingados", intimidando os traficantes só com "cara feia".
Mas o pior está por vir. Você sai da sala de cinema com a impressão de que os bandidos são os mocinhos e os policiais são os vilões. Toda a polícia do Rio é retratada como corrupta e controlada por Hernan Reyes. Ninguém escapa da sua autoridade, podendo inclusive esconder seu dinheiro de tráfico dentro do cofre forte do Comando Geral da Polícia Civil. Em outra cena revoltante, Dominic Toretto (Vin Diesel), ameaça Luke Hobbs (The Rock) que chega  com seus homens armados até os dentes. Só que "Dom" está cercado de uma gangue aliada de corredores de drift e rachas, igualmente armados e em muito maior número. Daí vem a frase mais irritante do filme. É algo assim: "Você está muito longe de casa. Isso aqui é o Brasil!" Daí os caras sacam pistolas, metraladoras, fuzis, revolveres e tudo mais, e apontam para os federais. Peraí, mano! Quer dizer que o Brasil só tem bandido e é uma terra de ninguém? Olha só uma coisa. O Rio de Janeiro pode ser uma cidade que sofre demais nas mãos do crime organizado, mas o que é retratado neste filme é por demais ofensivo. Quer dizer que no Rio e no Brasil só existe bandido? Quer dizer que só tem policial corrupto? Que o Rio é entregue nas mão de gângsters a estirpe de Al Capone, que mandava e desmandava em Chicago, Illinois, entre os anos 20 e 30? Quê isso??? Tem uma doutra frase do filme que diz: "no Rio não existem policiais honestas" (percebe o erro na fala?). Vende-se assim o Brasil e o Rio com o pior que se pode ter. Rapáz, isso foi pra tirar qualquer um do sério. Os americanos devem estar adorando o filme, mas aqui, mais uma vez, tem muita gente querendo comer o fígado do diretor Justin Lin e do roteiristas Chris Morgan.


Pois é, gente. Tirando o longa de animação, "Rio", cujo diretor é brasileiro e fez questão de mostrar o Brasil da melhor forma possível, em geral Hollywood não sabe descrever o país alheio. Se fazem isso por aqui, imaginem o que não fazem ao retratar outros países. E o pior: nós acabamos por importar este mesmo anacronismo.
Minha recomendação é: assistam Velozes e Furiosos 5: Operação Rio, e vejam por si mesmos o que eu vi e deixei aqui pra vocês. 


FUI!!!  (de Pontiac GTO 2006 Coupe)

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