domingo, 28 de agosto de 2011

DRÁCULA E A HISTÓRIA POR TRÁS DA LENDA

Vlad III Drácula, o Empalador (1431 - 1476)

Por Demetrius Farias

Introdução

Existe um fenômeno social crescente no Brasil e no mundo, principalmente entre o público infanto-juvenil, com quase em tudo que é relacionado a lendas de vampiros. Desde o início da série de livros Crepúsculo, de Stephenie Meyer, e a sua adaptação para o cinema, vários outros filmes e séries televisivas foram produzidos com este tema - nota-se que já na década de 90 a televisão e o cinema já investiam no assunto, como se viu na séries Buffy,a Caça Vampiros e Angel, além dos filmes Entrevista com o Vampiro (1994). O interesse por vampiros saiu da ficção e passou a estar presente na sociedade por meio de subculturas urbanas, onde o culto vampírico vai desde a mera caracterização de um personagem, chegando até mesmo a apropriação intencional de uma personalidade vampírica, onde também encontramos os casos psiquiátricos e os casos de polícia.

As lendas sobre vampiros estão na moda, mas elas são tão antigas quanto a humanidade. Presente na mitologia e folclore de muitos povos ao longo da história, tais criaturas demoníacas são mortos-vivos que tem por objetivo alimentar-se da essência vital de outras criaturas, sobretudo na forma de sangue. Foram nos séculos VII, VIII e XIX que tais lendas de vampiros se tornaram populares (vindas principalmente da Europa Oriental e dos Bálcãs), e o termo "vampiro" ganhou notoriedade global. As histórias de vampiros ganharam tamanha fama naquela época, que casos de histeria coletiva eram comuns, resultando em violações de sepulturas, mutilação e perfurações de cadáveres e ondas de denuncismo contra vizinhos e conhecidos, gerando inclusive alguns parcos processos do Santo Ofício.

A partir de 1819, os vampiros ganharam um ar mais sofisticado e carismático. Antes disso, as lendas retratavam os vampiros com aparências das mais variadas, que vão desde o vampiro com aparência humana "normal", passando pelo aspecto tísico até o cadáver em estado de decomposição avançada.

Entretanto, foi em 1897 com a publicação da famosa obra do escritor irlandês Abraham (Bram) Stoker, Drácula, que a figura do vampiro tomou a sua forma moderna, popular até hoje. Bram Stoker havia feito extensiva pesquisa sobre as lendas de vampiros, mas necessitava de um argumento verossímil para o seu romance. Com base em uma figura histórica, é criado o personagem principal do romance de Stoker, o Conde Drácula, cuja descrição original já modificou-se muito, já que o ser fictício agora é de domínio público.


Neste pequeno artigo biográfico, quero contar-lhes a história do verdadeiro Drácula, aquele que deu origem ao famoso monstro e que hoje é um dos ícones do horror mundial.


A Inspiração

O Drácula que inspirou seu homônimo vampiresco foi descoberto como personagem histórico por Bram Stoker durante a sua pesquisa no British Museum, encontrando, assim, a base para a criação do personagem. O verdadeiro Drácula, longe de ser um conde transilvano, era um príncipe romeno do século XV, cuja fama de tirano cruel e as lendas e histórias que o cercavam, serviram para caracterizar o personagem. Eis a história de Drácula:

Em 1431, na cidade de Sighişoara, Transilvânia, nasce o filho do voivoda Vlad II Dracul e da Princesa Cneajna da Moldávia. Seu nome entraria para a história como Vlad III Draculea, ou como a alcunha de Vlad Țepeș, que significa Vlad, o Empalador. Mas para conhecermos Vlad III, é necessária uma breve visão panorâmica das antigas "províncias romenas" e da história de seus antecessores.

O sobrenome de Vlad III, Drácula, vem do romeno Dracula, que também pode ser grafado Draculea ou Drakulya, e significa "Filho do Dragão". Refere-se ao seu pai, Vlad II Dracul, ou Vlad, o Dragão, apelido adotado por ele após ter sido ordenado Cavaleiro da Ordem do Dragão (1431), uma ordem de cavaleiros criada em 1408 nos moldes das ordens cruzadas, com o objetivo de defender a Cruz de Cristo e a Europa do avanço otomano e proteger o Imperador do Sacro Império Romano-Germânico e Rei da Hungria, Sigismund von Luxemburg, bem como a família deste. O primeiro elemento que agrega mistério e misticismo ao nome e pessoa de Vlad III é que, supostamente, Dracul também significaria "diabo", por conseguinte, Draculea significa "Filho do diabo", contudo, esta informação não é verídica.

A Romênia que conhecemos hoje, durante a idade média, era dividida em províncias e principados separados politicamente. Na época, o Principado da Valáquia e o Principado da Moldávia eram vassalos do Império Otomano, enquanto a Transilvânia fazia parte do Reino da Hungria e seus governantes eram de origem húngara. Ao contrário do que a ficção de Bram Stoker nos conta, Vlad III Drácula nunca foi conde e nunca governou a Transilvânia, já que esta estava sob poder dos húngaros.

Originalmente a Valáquia era parte da antiga província romana da Dácia. A população local era composta de dácios, sármatas e godos, tendo sido romanizada ao longo do tempo. Os godos foram expulsos pelos hunos de Átila, que ocuparam a região. Durante os séculos seguintes, esteve sob influência bizantina e, enfim, foi anexada ao I Império Búlgaro. Povos eslavos também se estabeleceram na região, mas logo que o poder dos búlgaros caiu, voltaram os bizantinos a exercer influência. Em 1091, os cumanos derrotaram os turcos pechenegos e estabeleceram seu domínio em toda a região da Moldávia e da Valáquia. Neste período, surgem várias pequenas unidades políticas, governadas por voivodas (príncipes militares). Com a invasão mongol na Europa Oriental, o domínio dos cumanos terminou (1241), e a Valáquia passou a ser reivindicada pelo Reino da Hungria e o Reino da Bulgária.

Mas com a contínua perda de poder húngaro frente aos ataques mongóis, as pequenas unidades políticas ao norte do Danúbio se unificaram e formaram a Valáquia, com um governo que progressivamente se tornava independente da Hungria. Em 1310, Basarab I, o Grande (Basarab cel Mare) consolidou a independência do Principado da Valáquia, rebelando-se contra Carlos I da Hungria, derrotando-o na Batalha de Posada (1330), do qual era vassalo.

A Europa durante o século XV.
Já no século XV, quase toda a península balcânica estava sob o poder crescente dos turcos otomanos, trabalho terminado em 1453 com a Queda de Constantinopla pelo Sultão Mehmed II.


Sob o governo de Mircea I, o Velho (Mircea cel Batran), a Valáquia se tornou um tributário do Império Otomano. Embora a Valáquia tenha conquistado várias batalhas contra os otomanos, adquirindo terras no processo, a Paz assinada com o sultão era frágil. A monarquia valaquiana era eletiva, onde o Voivoda era escolhido entre os membros da família reinante por um conselho de nobres. Quando o conselho de boiardos (a nobreza local) se ressentia de um governante, uma coligação passava a lhe fazer oposição. Foi o caso de Dan II, que assinou a Paz com o sultão Murad II, e com isso abriu um período de crise interna. Uma coligação de boiardos passou a se rebelar contra Dan, que reprimiu a coligação fortemente, fazendo com que estes passassem a adotar uma política pró-otomana. Em 1431 a rebelião saiu vitoriosa e Alexandru I Aldea, irmão de Vlad II, passou a governar.

Vlad II não aceitava a submissão da Valáquia ao poder da Sublime Porta (um dos nomes pelo qual o Império Otomano era conhecido), e por razões ainda obscuras, Vlad II esteve exilado na Transilvânia. Imagino que Vlad II discordava da política de Dan II. A Casa de Basarab, a dinastia que fundou a Valáquia, estava dividindo-se em dois clãs rivais: o Clã Dăneşti, fundado por Dan I, e o Clã Drăculeşti, à semelhança do que aconteceu com os Plantagenetas ingleses, que deram origem a Guerra das Duas Rosas (1455 - 1487), entre as famílias Lancaster e os York. Inicialmente, as desavenças dos Dăneşti era contra os próprio Basarab (a linhagem principal), quando da disputa de poder entre Dan II e Radu II, que se alternaram por cinco vezes em sete anos (1420 - 1431). O clã Dăneşti era a favor de uma Valáquia livre, porém os Basarab eram, por vezes, pró-turcos. Embora Vlad II fosse descendente direto de Mircea I, portanto um Basarab, ele compartilhava da mesma visão dos Dăneşti. Entretanto, este não era um fator de união entre ambos, pois o desejo pelo poder fez com que o clã dos Drăculeşti se firmasse como inimigos dos Dăneşti.

Durante o exílio, Vlad II buscava apoio dos boiardos para tomar o poder de Alexandru I Aldea. Como membro dos Basarab, a política pró-turca de Alexandru somente fomentou o desejo de poder dos Dăneşti e dos Drăculeşti. Em 1436, morre Alexandru, de forma incerta, já que fontes dizem que foi assassinado por Vlad II e outras fontes dizem que Alexandru morreu doente. Fato é que, enfim, os Drăculeşti assumiam o poder na Valáquia de agora em diante.

Ainda no exílio, Vlad II foi convidado pelo Sacro Imperador Sigismund para fazer parte da Ordem do Dragão, e neste mesmo ano, nasce Vlad III Draculea. Drácula era nascido da segunda esposa de Vlad II, Cneajna da Moldávia, e possuía dois irmãos mais velhos, Mircea II e Vlad Calagarul, e um irmão mais novo, Radu III, o Belo. Drácula, aos cinco anos de idade, foi iniciado pelo pai na Ordem do Dragão. Os primeiros anos de vida de Drácula e Radu foram em sua cidade natal, aos cuidados de sua mãe e de outras mães de importantes boiardos. Sua educação na infância e adolescência foi uma educação típica de um nobre europeu. Um dos seus primeiros tutores, foi um veterano de guerra bizantino que lhe ensinou sobre cavalaria, aprendendo tudo sobre os deveres de um cavaleiro cristão, sobre a guerra e a paz. Quando seu pai assumiu o trono da Valáquia e mudou-se de Sighişoara para Târgovişte, sua capital, Drácula recebeu educação de sábios romenos e gregos (contratados de Constantinopla), no qual foi educado em técnicas de combate, geografia, matemática, ciências, eslavo antigo (a língua da Igreja Ortodoxa), alemão, latim, filosofia e artes clássicas.

Durante o governo de Vlad II, a situação política ainda era muito instável. A Valáquia estava entre os interesses de dois grandes estados com poder crescente: o Reino da Hungria e o Império Otomano. Os turcos eram uma ameaça que se alastrava pelo sudeste europeu, onde os vários pequenos estados balcânicos caiam um após o outro. Por outro lado, a Hungria estava no seu auge, sob a liderança do governador-regente João Hunyadi, o Cavaleiro Branco da Hungria e pai do futuro rei Matias I Corvinus. Vlad II, assim como os demais voivodas da Valáquia, tinha que fazer política com estas duas potências regionais. Legalmente, os príncipes valaquianos eram vassalos do Rei da Hungria, mas com o avanço turco sobre os Bálcãs, a Valáquia foi obrigada a pagar tributo ao sultão. Vlad II foi forçado a renovar os tributos entre 1436 até 1442.

Em 1442, Vlad II se manteve neutro quando os turcos invadiram a Transilvânia, onde João Hunyadi também era o voivoda. Em vingança, por entender que Vlad II havia traído a Ordem do Dragão e os votos de defender a cristandade contra o avanço turco, Hunyadi forçou Vlad II a fugir, exilando-se mais uma vez. Todavia, desta vez, ele foi para a corte do sultão otomano. Seu filho mais velho, Mircea II, assumiu o trono. Mircea, apesar do pai ter-se refugiado entre os turcos, manteve uma política anti-turca, sem que o pai nada fizesse de bem ou mal quanto a isso. Mas Hunyadi se ressentia de Vlad II e invadiu a Valáquia, destronando Mircea e colocando no poder o seu próprio candidato, Basarab II do Clã Dăneşti.

Vlad II, entretanto, negociou com o sultão que este o apoiasse na retomada do trono valaquiano. O sultão exigiu que Vlad II, em contrapartida, se comprometesse com a manutenção dos tributos devidos ao soberano turco, bem como outros favores. Em demonstração de boa fé, Vlad II deixa como reféns, na corte otomana, seus filhos Drácula e Radu, o Belo, que foram enviados para Edirne. Em 1443, Vlad II volta ao poder na Valáquia, destronando Basarab II.

Vivendo como refém da corte do sultão Murad II, Drácula foi preso e chicoteado várias vezes por seu comportamento teimoso e abusos verbais contra seus tutores. Contudo, seu irmão, Radu, era bem mais dócil e fácil de se controlar. Radu se converteu ao islã, o que enfureceu Drácula. Radu entrou para o serviço militar, junto com o filho do sultão, Mehmed II, sendo autorizado a morar no Palácio de Topkapi. Ele foi homenageado pelo soberano turco com o título de Bey (governador) e recebeu o comando de um contingente de janízaros (tropas de elite do sultão, composta de escravos cristão capturados, ainda meninos, e educados na arte da guerra e no islã).

Presume-se que estes anos como prisioneiro tiveram forte influência sobre Vlad III Drácula. Ele passou a odiar os turcos, os janízaros (via-os como traidores), seu próprio irmão por ter se tornado um muçulmano, e o príncipe otomano Mehmed II. Além disso, Drácula se ressentia de seu pai, Vlad II Dracul, por sua preferência pelo filho mais velho, Mircea e o meio-irmão Vlad Galagarul. Ele também desconfiava dos húngaros e de seu próprio pai, por ter feito aliança com os turcos, traído a Ordem do Dragão e o seu juramento de lutar contra o Império Otomano. Tempos depois, Drácula recebeu liberdade condicional, e foi educado no Alcorão, em obras de literatura e nas línguas turca e persa. No fim de sua vida, além do romeno (sua língua materna), falava fluentemente ao todo cinco idiomas. Drácula também recebeu treinamento em guerra e equitação. Enquanto Radu se mudou para Constantinopla para morar no palácio do sultão, Drácula ficou todos os anos de seu aprisionamento em Edirne.

Em 1444, o rei da Hungria, Ladislaus V, juntamente com Wladislav III da Polônia (que também disputava o trono da Hungria), quebraram um acordo de paz feito com os turcos, e organizaram uma Cruzada até Varna (na Bulgária), aliados a outros estados cristão, contando com o apoio financeiro do Papa. João Hunyadi estava no comando da cruzada. Hunyadi ordenou que Vlad II cumprisse seus votos feitos a Ordem do Dragão, e se juntasse ao exército cristão, como um súdito da coroa húngara. Até mesmo o Papa Eugênio IV absolveu Vlad II de suas obrigação com os turcos para que ele se juntasse a cruzada. Preocupado com os ganhos políticos desta empreitada, principalmente temendo uma revanche húngara após a vitória, Vlad II não participa pessoalmente da batalha, preferindo enviar seu filho, Mircea. Se algo desse errado, o sultão poderia poupar a vida de Drácula e Radu, ainda vivendo em Edirne.

A Batalha de Varna foi uma tragédia para os cristãos. João Hunyadi conseguiu escapar da derrota, em circunstâncias que mancharam sua reputação de valente membro da Ordem dos Cavaleiros Brancos. Muitos aliados, incluindo Mircea e Vlad II, responsabilizaram Hunyadi pela derrota e o culparam de covardia por fugir da batalha. Nesta altura, João Hunyadi passou a odiar Vlad II e a seu filho mais velho. Em dezembro de 1447, boiardos ligados a Hunyadi, se rebelaram contra Vlad II e o assassinaram. Mircea II foi cegado e enterrado vivo nos arredores da capital, Târgovişte, por boiardos e mercadores burgueses. Como novo Voivoda da Valáquia, João Hunyadi elegeu seu próprio candidato, outro membro do Clã Dăneşti, Vladislav II.

Para evitar que a Valáquia caísse definitivamente nas mão dos húngaros, os turco apoiaram Vlad III Drácula como voivoda. Em 1448, Vlad III assume o trono, mas por apenas dois meses, já que João Hunyadi resolve invadir a Valáquia e restaurar o aliado Vladislav II. Fugindo para o exílio na Moldávia, Vlad III se refugia com seu tio materno, Bogdan II. Mas quando o Voivoda da Moldávia é assassinado em 1451, os tumultos entre o povo e a realeza obrigaram Drácula a fugir mais uma vez, porém, para a própria Hungria. Vivendo mais uma vez na Transilvânia, foi buscar proteção do seu antigo inimigo, João Hunyadi. Hunyadi ficou tão impressionado com a inteligência e formação cultural de Drácula, bem como seu profundo conhecimento da mentalidade e íntimo turco, além do ódio pelo sultão Mehmed II, que resolveu reconciliar-se com a família Drăculeşti, tornando Vlad III seu assessor pessoal.

A ocasião parecia irreal! Vladislav II, de uma hora para outra, resolveu apoiar os turcos, trazendo a desconfiança de Hunyadi com relação a ele. Era necessário colocar alguém mais confiável no trono da Valáquia. Para piorar a situação, em 1453, Constantinopla cai frente aos turcos, após um longo cerco, encerrando finalmente a presença cristã no Mediterrâneo Leste. Agora os turcos poderiam avançar em uma única frente contra a Europa. Hunyadi, então, fez aliança com Drácula e o tornou candidato da Hungria para ser o novo voivoda, no lugar de Vladislav II. Drácula se tronou súdito da Hungria e recebeu os ducados transilvanos de Almas e Faragas.

Em 1456, os otomanos invadiram a Sérvia e cercaram Belgrado, ameaçando a Hungria. Hunyadi organizou um contra-ataque que conseguiu resistir aos turcos, que levantaram cerco e foram embora. Mas uma praga de Peste assolou a cidade, e João Hunyadi veio a falecer. Porém, Drácula levou seu próprio exército para a Valáquia, retomando seu país, e matando Vladislav II em um combate mano-a-mano.

Vlad III encontrou uma Valáquia depauperada e miserável. O crime e a pobreza estavam imperando no campo e nas cidades. A produção agrícola havia caído e o comércio praticamente não existia mais. Além disso, com a morte de João Hunyadi, a Valáquia estava virtualmente desprotegida. Vlad III Drácula não teve outra opção. Para solidificar a sua posição, Drácula teve que apoiar os turcos, ainda que por pouco tempo. Para restaurar a economia do país e tornar a Valáquia forte suficiente para resistir aos inimigos, ele teve que utilizar de métodos severos para restaurar a ordem e a prosperidade. O segundo reinado de Vlad III Draculea, o mais longo, se estendeu de 1456 até 1462.

A fortaleza de Drácula, o Castelo de Poenari, ao norte de Târgovişte,
 é considerado dos lugares mais assombrados da Romênia.
Sua capital foi Târgovişte, e seu castelo, a Fortaleza de Poenari, foi erguida sobre um alto penhasco, às margens do Rio Arges (hoje é um ponto turístico na Romênia), sendo quase inexpugnável. Sua política interna visava fortalecer o país e o seu poder pessoal. Ele tomou medidas para o bem-estar dos camponeses, construindo novas vilas e cidades, e aumentando a produção agrícola. Deu incentivos aos comerciantes valaquianos e limitou a ação de comerciantes estrangeiros. Drácula considerava os boiardos como a causa das derrotas da Valáquia. Para assegurar o seu poder, Drácula condenou a morte muitos destes nobres, e deu cadeiras no Conselho dos Boiardos para pessoas de sua confiança, alguns deles sendo mesmo estrangeiros. Para os cargos menores, ele preferia dar funções a cavaleiros e camponeses, elevando-os a classe da nobreza. Drácula criou leis severas para punir ladrões e criminosos. O exército foi reformado e fortalecido, criou uma guarda pessoal de mercenários e uma milícia de camponeses para serem convocados em caso de guerra. Drácula também construiu igrejas e, a sua própria custa, dois monastérios, um dos quais veio a ser o local de sua sepultura, o Monastério Snagov.

A maioria das atrocidades associadas ao nome de Drácula ocorreram durantes esses anos. Foi também durante essa época que ele iniciou seu próprio campanha contra os turcos. Seus ataques foram relativamente bem sucedido, inicialmente. Suas capacidades como guerreiro e sua bem conhecida crueldade fizeram dele um inimigo temido e cercado de lendas tenebrosas. Entretanto, ele recebeu pouco apoio do seu suserano, Matias I Corvinus, Rei da Hungria (filho de João Hunyadi), e os recursos valaquianos eram poucos para alcançar algum grande sucesso contra o odiado sultão Mehmed II.

Uma vez que os nobres da Valáquia eram ligados aos nobres da Transilvânia, Vlad III resolveu agir contra eles também. Drácula eliminou todos os seus privilégios de comércio com a Valáquia e passou a invadir suas cidades e fortalezas. Em 1459, em Brasov, ele mandou empalar quase todos os colonos. Também perseguiu o Clã Dăneşti, capturando e eliminando vários membros deste, que seriam potenciais adversários. Diz-se que ele próprio se vingou de um dos príncipes do clã, que havia participado do assassinato de seu irmão mais velho, fazendo-o se ajoelhar diante de sua própria sepultura aberta, e forçando-o a ler elogios para Drácula, antes da execução.

O sultão Mehmed II, velho desafeto de Drácula durante os anos de aprisionamento na Turquia, reclamou a Valáquia como possessão do Império Otomano, e Vlad III, então, aliou-se ao rei da Hungria. O Papa Pio II convocou uma nova cruzada contra os turcos, mas os líderes europeus, ressabiados com o episódio de Varna, não demonstraram muito interesse. Na ocasião, o Congresso de Mântua, na Itália, o único que se empolgou com a ideia foi..., Vlad Țepeș (Tepes significa "Empalador", apelido dado a Vlad III Drácula por seus inimigos e estrangeiros, devido a sua fama de mandar empalar condenados e prisioneiros de guerra).

Mehmed II enviou uma embaixada a Târgovişte, em 1459, para exigir impostos e tributos atrasados. Mehmed mandou cobrar 10.000 ducados e mais 500 recrutas para o Corpo dos Janízaros. Drácula, para ter um pretexto contra o sultão turco, executou os mensageiros. Conta-se que quando os embaixadores chegaram, não retiraram os seus turbantes da cabeça em cumprimento ao voivoda. Drácula perguntou a eles o porque de não fazerem a devida saudação, ao que lhe responderam que não era costume turco retirar o chapéu na presença de um homem. Drácula responde: "Por certo! É meu dever vos fazer guardar firmes os vossos costumes'' - disse ele, mandando que seus guardas fixassem com pregos os turbantes na cabeça dos emissários.

Mehmed II recebeu relatórios de que Vlad Tepes estava obtendo controle sobre o Danúbio, ao que o sultão ordenou que o Bey de Nicópolis, Pasha Hamza, fosse a Valáquia e negociasse um acordo de paz ou eliminasse Vlad Tepes. Drácula, então, planejou uma emboscada. Pasha Hamza, liderando uma cavalaria de 10.000 homens e animais, atravessou uma passagem estreita onde foram atacados de surpresa. Os valaquianos cercaram os turcos e os massacraram. Quase todos os sobreviventes foram capturados e empalados, inclusive o Bey de Nicópolis, que foi empalado em uma estaca maior que as outras, para destacar o seu posto de liderança.

Em 1462, Drácula atravessa o Danúbio e cruza a Bulgária do oeste para o leste, ate o Mar Negro, onde o Danúbio deságua no mar. Disfarçado de Sipahi, um cavaleiro de elite turco, Drácula devastou todo o território e os campos otomanos. Cerca de 23.884 búlgaros foram mortos, fora os que foram queimados vivos em suas residências. Os soldados turcos vencidos foram decapitados e suas cabeças empaladas.

Mehmed II ficou possesso! Em resposta a isso, ele organizou um exército de 60.000 homens e mais 30.000 soldados irregulares, com o qual invadiu a Valáquia. Comandando apenas 40.000 homens, Drácula não podia impedir que o sultão invadisse seu país e ocupasse a capital, Târgovişte. Então Drácula adotou táticas de guerrilha, executando pequenos ataques e emboscadas contra os turcos. Destas investidas, a mais famosa ficou conhecida como "O Ataque Noturno", onde um exército valaquiano composto de poucos boiardos e soldados profissionais, sendo todo o restante, em sua maioria, de mercenários, ciganos e camponeses (incluindo mulheres e crianças acima de 12 anos), totalizando 30.000, atacou o acampamento turco com tochas acesas e com o objetivo de assassinar o sultão. O objetivo principal não foi alcançado, mas dos 90.000 soldados turcos, morreram 15.000 naquele noite de 17 de junho de 1462. Os atacantes perderam apenas 5.000 soldados. Na retirada de Drácula, ele optou pela tática de Terra Arrasada, queimando tudo para traz, a fim de não deixar nada para os turcos.

O ataque foi comemorado em várias cidades da Transilvânia, nos estados italianos e pelo Papa. Um emissário veneziano na corte de Matias I Corvinus, expressou grande alegria e disse que toda a cristandade deveria comemorar as campanhas de sucesso de Vlad Tepes. Drácula acumulou outra vitória majestosa contra os três mais graduados comandantes Sipahi, Iosuf Bey, Bey Ömer Turahanoğlu e o Bey de Evrenos. Isso enfureceu a Mehmed II que cruzou o Danúbio mais uma vez. A cidade genovesa de Caffa, na Criméia, enviou felicitações e agradecimentos oficiais a Vlad Tepes, pois suas vitórias os haviam livrado de uma ataque de 300 navios otomanos.

O irmão mais novo de Vlad III Drácula, Radu, o Belo, agora conhecido como Radu Bey, havia se passado para os turcos desde a adolescência, sendo querido de Murad II, pai de Mehmed, e amigo pessoal deste. Durante os anos de cativeiro na corte de Murad, Radu havia se tornado um soldado altamente capaz e um talentoso comandante janízaro. A ele foi dada a tarefa de, à frente dos batalhões janízaros, conduzir as forças do Império Turco-Otomano para a vitória final sobre Vlad III Drácula, o Empalador. Todas as despesas da campanhas seriam pagas pelo próprio sultão. Uma incursão de Sipahis falhou em vencer Drácula, e os poucos que sobreviveram foram mortos em um ataque noturno, incluindo mais 4.000 homens de Radu.

Radu III, o Belo
Radu, porém, estava recebendo um fluxo constante de pólvora e dinheiro para a sua campanha. Isso lhe permitiu que entrasse com seus batalhões de janízaros cada vez mais fundo em território valaquiano. Naquele ano de 1462, os turcos cercaram o Castelo de Poenari, e após um difícil cerco, conquistaram a vitória sobre Drácula. Conta-se que, quando os turcos estavam prestes a cercarem Poenari, um arqueiro parente de Drácula, movido por lealdade, apesar de convertido ao islã e servir no exército de Radu, escondido entre as árvores próximas, percebeu a sombra da primeira esposa de Drácula em uma janela, uma princesa ainda desconhecida, e atirou uma flecha em um dos quartos principais. Na flecha estava uma carta tentando avisar a todos de que Radu se aproximava. A princesa leu a carta e se atirou de uma das torres do castelo nas águas do rio Arges, que corria ao lado do penhasco onde o castelo havia sido construído. Segundo lendas locais, ela dizia que preferia apodrecer nas águas do Arges e ser comida pelos peixes, do que cair nas mãos dos turcos e ser levada cativa. Hoje este rio recebe o apelido de Rio Princesa.

Até 8 de setembro daquele ano, Drácula ainda conquistou mais três vitórias contra Radu, mas seus recursos foram rapidamente se exaurindo e ele não tinha mais como pagar seus mercenários. Enfim, Vlad III Drácula teve que fugir para a Hungria e pedir ajuda de seu suserano, Matias Corvinus. A derrota de Drácula deveu-se, além da falta de recursos, consumidos pela prolongada campanha, principalmente pela traição dos boiardos. Alienados pela política de Vlad III, que minava a autoridade dos nobres, estes resolveram aceitar suborno de Radu, que prometeu restaurar seus antigos privilégios. Os boiardos também achavam que os otomanos ofereciam melhor proteção do que os húngaros. Radu recebeu do Sultão Mehmed II o título de Bey da Valáquia.

Drácula chega na corte de Matias e pede socorro para retomar seu país, porém ele não recebeu nenhuma ajuda. Pelo contrário! O rei da Hungria aprisionou Drácula em seu castelo. Contudo, a verdade por trás da prisão de Drácula era a seguinte: Matias Corvinus, precisava de uma desculpa para não devolver uma vultuosa quantia em dinheiro paga pelo Papa para custear a guerra contra os turcos, e que ele havia gasto com dívidas pessoais. Matias forjou uma carta assinada por Vlad III que foi enviada para o sultão, dizendo que queria negociar a paz. Assim Matias Corvinus retardaria o confronto com os turcos, e ao mesmo tempo teria o que responder para o Papa. Drácula se tornara o bode expiatório perfeito.

Usando documentos falsos, como cartas forjadas onde uma suposta aliança entre Vlad III e Mehmed II estava sendo negociada, Matias acusou Drácula de alta traição. Drácula foi feito prisioneiro na capital da Hungria, a cidade de Buda. Mas o cativeiro de Drácula não foi nem um pouco oneroso aos cofres do rei. Em pouco tempo, Drácula caiu nas graças do Matias Corvinus, que lhe deu a mão de uma prima, Ilona Szilágyi, em casamento. Nos anos antes de 1474, Drácula viveu com sua nova esposa em uma casa na capital húngara e se tornou membro da família real. Desta união, nasceu Vlad Drácula IV, que chegou a se candidatar ao trono da Valáquia. Todos os filhos do casal se casaram com nobres húngaros.

Conta-se que nesta época um capitão húngaro, ao perseguir um ladrão que havia entrado na casa de Drácula durante a fuga, foram surpreendidos pelo príncipe em sua residência. Drácula matou o capitão ao invés do ladrão, que deixou fugir. Ele foi questionado sobre sua atitude por Matias Corvinus, ao que ele respondeu: "Um cavalheiro não se apresenta a um grande governante sem as corretas introduções e etiqueta - se o capitão tivesse seguido o protocolo, não teria sofrido a ira do príncipe".

Enquanto vivia na Hungria, Drácula planejava e se preparava para a reconquista da Valáquia. Em 1476, ele já estava pronto para atacar, e desta vez com total apoio de Matias Corvinus. Drácula e o príncipe Estêvão Báthory, Voivoda da Transilvânia (que mais tarde se tornaria Rei da Polônia e Grão-Duque da Lituânia), invadiram a Valáquia com uma força mista de transilvanianos, alguns burgueses valaquianos insatisfeitos e um contingente de moldávios enviados pelo primo de Drácula, Estêvão, o Grande, Voivoda da Moldávia. O irmão de Drácula, Radu, havia morrido alguns anos antes e substituído por um candidato ao trono apoiado pelos turcos, Basarab III, o Velho, membro do Clã Dăneşti. Era a chance que Drácula estava esperando: o irmão morto e um odiado Dăneşti pró-turco estava em sua mira.

Enquanto o exército de Drácula chegava, a corte de Basarab III fugiu pelas montanhas e foram pedir asilo aos turcos. Após colocar Drácula de volta ao trono, Estêvão Báthory voltou para a Transilvânia com parte de seu exército, deixando Vlad III Drácula sem muita chance de se manter sozinho. Sua posição havia se tornado muito enfraquecida. Drácula teve pouquíssimo tempo para tentar se organizar e obter apoio antes que um grande exército turco invadisse mais uma vez a Valáquia para restaurar a Basarab III. Parece que os próprios plebeus estavam cansados da crueldade e dos empalamentos promovidos pelo príncipe, e o abandonaram. Drácula foi forçado a lutar com uma minguada força de apenas 4.000 homens.

Em dezembro de 1476, Vlad III Draculea, o Empalador, foi morto em batalha contra os turcos, próximo a cidade de Bucareste, tendo governado por apenas dois meses. As circunstâncias de sua morte durante a batalha são controversas, havendo muitas versões heroicas e até um acidente envolvendo um dos seus próprios soldados que o flechou por engano. Nada é certo quanto a isso. O corpo de Drácula foi decapitado e a cabeça foi enviada para Constantinopla, onde o sultão colocou-a em uma estaca em exposição, como prova de que Vlad Tepes estava realmente morto. Drácula foi enterrado no Monastério Snagov, perto de Bucareste, um dos quais ajudo a construir.

Legado

Embora Drácula seja um herói nacional na Romênia. Muito de sua fama de cruel sanguinário veio da imaginação do povo, de propaganda pejorativa feita por seus inimigos, de exageros contados por seus aliados e por folclores em torno dele após a sua morte, criados e divulgados por panfletos da época.

Quando Drácula chegou ao poder queria se vingar dos boiardos pela morte do seu pai e de seu irmão. Embora sua vingança tenha levado dez anos para ser concluída, ele a levou a cabo na Páscoa de 1457. Os boiardos mais velhos e suas famílias foram empalados, enquanto os mais novos e suas famílias foram levados como escravos para a reconstrução do Castelo de Poenari. A construção da fortaleza visava não só a proteção pessoal de Drácula, mas também ter um posto onde ele poderia monitorar o movimento e passagem de tropas húngaras e turcas. Os nobres escravizados fora forçados a trabalhar até a morte e em condições muito severas. Segundo a tradição local, as famílias trabalhavam sem parar, ainda vestidas com as roupas finas da nobreza, na ocasião de suas prisões, até que estas roupas se deteriorassem no corpo e caíssem apodrecidas, quando então eles eram obrigados a trabalhar nus. Nenhuma das famílias boiardas sobreviveu a reconstrução do castelo, e os que não morreram de exaustão foram empalados. No lugar dos velhos boiardos, Drácula promovia camponeses, burgueses e membros da classe média para ocupar a nova nobreza valaquiana.

O número total de suas vítimas é incerto. Algumas fontes relatam que os mortos por Vlad III Drácula foram 40.000 pessoas, outras fontes falam de 80.000 e algumas até 100.000, mas acredita-se que estes números sejam muito exagerados. As atrocidades cometidas por Drácula falam de empalamentos, esfolamentos, afogamentos, fogueiras, caldeirões ferventes, amputações, etc. Todos os castigos eram aplicados a coisas que irritavam muito ao príncipe: mentira, roubo, adultério, etc. Para os ladrões, por exemplo, algumas sentenças eram o esfolamento dos pés, logo em seguida era posto sal sobre os ferimentos e dados para que cabras lambessem. Estas eram algumas das formas pelas quais Drácula mantinha a sua sociedade sob controle e demonstrava que o roubo não seria tolerado em suas terras. Nenhum perdão era dado para quem descumprisse as suas leis, mesmo que fossem mulheres, crianças, sem importar religião ou classe social. Entre suas vítimas estavam aqueles que ele julgava serem pesos para as finanças do estado, como mendigos, doentes mentais, prostitutas e mercadores estrangeiros. Em certa ocasião, ofereceu um banquete em um salão para mendigos, loucos e transeuntes. Após todos comerem e se fartarem com o banquete, ao som de música e diversão, Drácula ordenou que seus soldados trancassem as portas do salão e ateassem fogo ao lugar, matando a todos os "convidados", se livrando definitivamente daqueles "parasitas". As mulheres consideradas como adúlteras, fornicadoras, feiticeiras ou de moral duvidosa, tinha seus seios amputados e seus corpos queimados e expostos em praças.

O empalamento era sua forma de execução mais praticada. A morte por empalamento era muito dolorosa e lenta, podendo levar horas ou até alguns dias. E conta-se que a altura das estacas onde as vítimas eram postas eram correspondentes ao seu posto social ou hierarquia. Quando os condenados chegavam enfim a morrer, os corpos eram deixados para apodrecer por meses.

Xilogravura da época mostrando Vlad III em banquete ao lado
de condenados empalados, provavelmente do caso de Brasov.
Relatos e xilogravuras da época contam que certa vez, Drácula deu uma festa para comemorar a conquista de Brasov, realizada do lado de fora da cidade. Ao lado da festa estavam dezenas e dezenas de estacas com soldados e camponeses empalados, parecendo uma floresta. Conta-se que um servo de Drácula servia as mesa do príncipe com os dedos no nariz. Drácula perguntou: "Por que você está fazendo isso?", ao que o servo respondeu: "Eu não posso suportar o mau cheiro". Vlad Tepes imediatamente mandou que o servo fosse empalado em uma estaca muito alta. Quando o homem estava no alto e em agonia, Drácula disse: "Então você viverá aí em cima, onde o mau cheiro não pode alcança-lo."

Ainda com relação a este episódio, contasse que em determinado momento, Drácula levantou-se de sua mesa, tomou um pedaço de pão, foi até a uma das estacas dos empalados, molhou o pão no sangue que escorria na estacas e comeu o pedaço de pão. Esta é a única referencia de que se tem de Vlad III ingerindo sangue, mas ainda assim, o relato não é um fato comprovado, estando envolto por lendas. Alguns relatos alemães dizem que ele cozinhava seus prisioneiros em caldeirões até que os olhos estourassem nas órbitas destes suplicantes. Mãe eram empaladas com seus filhos na mesma estaca. Dois monges católicos foram empalados em estacas muito altas para "ajudá-los a irem para o céu". E um burro também foi empalado, posto que o animal havia zurrado durante o enterro dos seus donos. Relatos em russo e em língua eslava dizem que Drácula havia deixado uma taça de ouro à beira de um poço, que permaneceu por meses no lugar, pois ninguém tinha coragem de roubá-la, com medo das possíveis punições. Muitos destes relatos germânicos e eslavos são exagerados e até mesmo inventados, a fim de promover ou denegrir o voivoda.

Drácula era adepto de táticas de guerra ligadas ao terror psicológico, para impor medo aos inimigos e aterrorizar os camponeses. Ele foi acusado de empalar os soldados turcos aprisionados, ou tortura-los, o que foi verdade. Conta-se que em uma tentativa de travessia do Danúbio por um exército otomano, os soldados retornaram apavorados, ao ver milhares de corpos empalados apodrecendo às margens do rio. Em 1462, quando Mehmed II, a testa de um contingente de mais de 90.000 mil homens, invadiu a Valáquia e chegou até a capital de Drácula, ficou enojado ao descobrir que atrás de Târgovişte, havia uma cena que ficou conhecida como "A Floresta dos Empalados". Cerca de 20.000 corpos empalados estavam pendurados no lugar do que antes era uma mata. Como Vlad praticava a tática da "Terra Arrasada", sem deixar nada para trás que pudesse ser usado pelos turcos, ele devastou parte de uma floresta, cortando madeira para as estacas e queimando o restante. No lugar, soldados turcos e prisioneiros búlgaros (homens, mulheres e crianças) foram empalados e "plantados" na área. Mehmed II volto para Constantinopla e enviou outros comandantes para dar continuidade a campanha.

Entre outras histórias sobre ele constam:
1. Certa vez, Drácula estava passeando pelo campo e viu um senhor que trabalhava com sua camisa rasgada. Ele se aproximou do homem e perguntou: "Por que você está trabalhando com estas roupas? Você tem mulher?" O homem respondeu que era casado. Então Drácula pediu que o camponês lhe apresentasse sua esposa. Ao chegar na casa do homem, foi apresentado a esposa deste. "Você é saudável e as colheitas foram boas?", perguntou o príncipe. Ao que a mulher respondeu que sim, era saudável e as colheitas haviam sido boas. "Então não há razão nenhuma para que teu marido ande com roupas rasgadas", disse Drácula. O príncipe, enfurecido, mandou que a mulher tivesse as mãos cortadas e fosse empalada em praça pública, para que servisse de lição para todas as mulheres preguiçosas que não cuidavam dos seus maridos. Drácula deu uma nova esposa para o camponês desolado, e a ela mostrou o cadáver da antiga mulher, para que não imitasse a mesma conduta com seu novo marido.

2. Conta-se uma anedota de que, enquanto esteve aprisionado na Hungria, Drácula fez amizade com os carcereiros, que lhe forneciam ratos e pássaros, para que ele os empalasse com minúsculas estacas, por pura diversão e para não perder o hábito.

3. Em certa ocasião, criou-se uma lenda em torno de Drácula que, segundo seus próprios soldados, era imortal. Segundo as histórias contadas, em uma de suas batalhas, Drácula levou uma forte pancada na cabeça, vindo a cair em coma. Depois de ver o seu líder caído no chão, os soldados o consideraram como morto e fugiram do campo de batalha levando o corpo desfalecido. Entretanto, durante a retirada, Vlad acorda do coma, como se nada houvesse acontecido com ele, e após recuperar os sentidos, deu nova voz de ataque e levou seus soldados a vitória. Deste episódio, criou-se a lenda de que ele havia voltado dos mortos para guerrear com os vivos, depois de ter feito um trato com o diabo. Pura crendice!

Tumba de Vlad III em Snagov
4. Em 1900, um grupo de arqueólogos resolveu exumar o corpo de Vlad III Drácula de sua sepultura, no monastério onde ele estava enterrado. Para a surpresa deles, a sepultura estava vazia. Contudo, ossos foram encontrados espalhados ao redor da sepultura, que foram considerados pertencentes ao soberano. Os ossos foram reunidos e postos na sepultura, que foi fechada novamente. Outra equipe de arqueólogos retornou ao Monastério de Snagov em 1931, e encontraram a sepultura destruída, e no caixão, apenas ossos de animais, o que só acrescenta mais mistério sobre o nome de Vlad III Draculea, ou Vlad Tepes, o Empalador.

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