Por Darth Metrius
O Império Francês: Por incrível que pareça, mas o Império Galáctico e Palpatine têm algumas semelhanças com a França Revolucionária e ninguém menos que Napoleão Bonaparte.
Durante o período do Terror, alguns revolucionários ligados a burguesia deram um golpe que ficou conhecido como 9 Termidor, que no calendário gregoriano corresponde a 27 de julho de 1794. O golpe instaurou o Diretório, onde a República Francesa era governada por cinco diretores e legislada por duas câmaras. Mas apesar do sucesso inicial, a Diretório não conseguiu resolver problemas inflacionários e de extrema corrupção. A França clamava por um homem forte. Atendendo a este pedido, Napoleão volta de sua campanha no Egito e dá um novo golpe de estado, o 18 Brumário (9 de novembro de 1799), derrubando o Diretório e instaurando o Consulado. O executivo era composto de 3 cônsules eleitos pelo Senado (legislativo). Mas o Primeiro Cônsul, Napoleão, detinha amplos poderes. Para fazer valer suas decisões e justificar suas medidas autoritárias, Napoleão submetia tudo à aprovação popular, que apoiava seu governo por meio de plebiscitos. Com as várias vitórias contra as potências européias, Napoleão ganhou prestígio e a simpatia do povo, também por seus feitos internos, como a reconstrução da economia e a inauguração de obras públicas.
Notem agora o curioso da história: Para garantir a estabilidade da nação e da economia, bem como a segurança da sociedade (já viram e ouviram isso antes, não?), Napoleão levou a voto popular a sua coroação como Imperador da França, que foi aprovada com esmagadora maioria, e levada a cabo com uma grande festa (estrondoso aplauso, como diria Padmé Amidala) de em 2 de dezembro de 1804. Napoleão reinou soberano, mas a França já começava a dar sinais de fraquesa. Após a desastrosa campanha contra a Rússia em 1812, a França teve que lutar contra a Prússia, Inglaterra, Suécia e Áustria, sem sucesso, e em 1814 as forças de coalizão marcharam sobre Paris e depuseram o Imperador. Mas nem tudo estava perdido. Em uma última tentativa, Napoleão retorna ao poder em 1815, para o Governo dos Cem Dias, com o objetivo de vingar a si a ao país. É derrotado e vai para o exílio em Santa Helena.
Doutrina Tarkin: Estes três fatos históricos sobre o Império Galáctico tem paralelos interessantes com a realidade.
A primeira delas que quero comentar é a Doutrina Tarkin. Esta doutrina, como ficou conhecida, foi na verdade uma carta endereçada ao Imperador, escrita por Grand Moff Tarkin, que na época era apenas Moff, sugerindo ao Imperador que, para conter possíveis rebeliões e aumentar o controle sobre os sistemas mais exaltados, fosse criado os Oversectors, governados pelos Grand Moffs, principalmente nos territórios da Orla Exterior. Além de descentralizar ainda mais o governo, facilitando o controle, os Grand Moffs responderiam diretamente ao Imperador. A Doutrina Tarkin também previa o uso intensivo da Holonet para coordenar Grupos de Setores, além de adotar uma política extremamente repressiva, impondo o poder pela força das armas. Contemplava também criação e o uso de uma super arma como símbolo do medo. O Imperador ficou tão impressionado com as sugestões da carta, que as implementou imediatamente e promoveu Tarkin ao recém-criado posto de Grand Moff.
A Doutrina Tarkin é semelhante à política adotada pelo Império de Qin. Por volta do século III, à China era dividida politicamente por sete reinos independentes, herdeiros da Dinastia Zhou. O mais poderoso deles era o Reino de Qin (Jin, ou ainda Chin, de onde vem o nome China). No final deste período, conhecido como Período dos Reinos Combatentes, o rei de Qin, o jovem Zheng de 38 anos, havia derrotado todos os demais seis estados combatentes e unificado a China sob o Reino de Qin, por volta de 214 a. C., quando também assumiu o título de Qin Shi Huangdi, o Primeiro Imperador de Qin. O antigo Reino de Qin adotava como filosofia política o Legalismo, pelo qual enfatizava a observância estrita de um código legal e o poder absoluto do monarca. Tal filosofia foi trazida para dentro do novo estado unificado da China, obrigando qualquer outra filosofia ser banida. O Legalismo legitimava o poder pela força e a opressão pelo medo. O Imperador governava com mão de ferro e geria a todos os assuntos internos, inclusive assuntos particulares. Todos os opositores políticos eram brutalmente silenciados e o seu ápice se deu quando muitos acadêmicos e filósofos confucionistas foram enterrados vivos em cerimônias fúnebres, bem como milhares de livros foram queimados. Tais medidas foram sistematizadas em um código legal, graças ao intelectual e oportunista político, Li Si, que foi nomeado primeiro-ministro e chefe de governo do Imperador. Neste aspecto, Li Si pode ser comparado às figuras de Grand Moff Tarkin e Sate Pestage juntos.
A Doutrina Tarkin, em outros aspectos, via a ação militar e o uso da Frota Imperial como uma maneira eficaz de manter a ordem e conter o avanço de rebeliões. Não poucas operações militares foram realizadas contra sistemas hostis, entre 18 e 1 BBY. Qualquer sinal de oposição ao regime era punido com massiva intervenção imperial e ocupação militar. Estas medidas também foram uma realidade durante a Guerra Fria, quando a URSS e os Estados Unidos se disputavam a influência sobre o mundo. A Doutrina Truman e o Macarthismo deram um caráter opressor à política interna americana, principalmente aos que tinha idéias socialistas, durante as décadas de 50 e 60, bem como fazia com que a ajuda financeira a países do Leste Europeu e Oriente Médio, bem como a Guerra do Vietnã, se tornassem expressões desta tentativa de salvaguardar os regimes capitalistas do avanço comunista.
Mas a URSS também tinha a sua Doutrina Tarkin, ou melhor dizendo, a Doutrina Brejnev, concebida por Leonid Brejnev, que afirmava que em caso de ameaça a ordem socialista nos estados membros do Pacto de Varsóvia ou a qualquer outra nação comunista, o Estado Soviético tinha total poder de intervir diretamente na política e na economia de tal nação. Mas, principalmente, intervir militarmente. Foi um resultado direto da Primavera de Praga, na década de 70 e que levou a URSS a invadir o Afeganistão em 79.
A Ordem 66 e o Grande Expurgo Jedi: Estes dois eventos têm similaridades com alguns eventos históricos muito semelhantes entre si e entre a ficção.
O Grande Expurgo Jedi, iniciado logo após as primeiras execuções da Ordem 66, e que durou até a fragmentação do Império (pelo menos oficialmente o Imperador nunca ordenou o fim da perseguição), pode atribuir a sua inspiração a eventos históricos espalhados, ao longo da história de alguns povos e nações. Vamos aos fatos:
1. URSS, 1934, Большая чистка (O Grande Expurgo): Foi uma ação persecutória impetrada por Josef Stalin, que se encerrou em 1939, com o início da II Guerra Mundial. Súbita e sem explicação alguma, o ditador soviético aniquilou mais da metade dos membros do partido comunista, mais de cinco mil oficiais do Exército Vermelho e incontáveis civis, todos considerados "inimigos do povo". Alguns dos mortos eram opositores do governo, no que se refere aos planos de reforma econômica, os Planos Qüinqüenais, mas a maior parte das vítimas não tinha nenhum indício de oposição direta ao governo. A principal vítima dos delírios persecutórios de Stalin foi Leon Trotsky. O resultado do evento foi que o partido ficou esfacelado, bem como a liderança do exército perdeu seus oficiais mais experientes e capacitados, deixando um vácuo que se mostrou difícil de ser preenchido, o que prejudicou o esforço de guerra contra a Wehrmacht.
2. Alemanha, 1934, Nacht der langen Messer (A Noite das Facas Longas): Este episódio aconteceu na madrugada de 30 de Junho para 01 de Julho, com a prisão e morte de inúmeros líderes e demais membros da SA. Por volta da década de 30, a SA era uma organização paramilitar, conhecida pelo apelido de "camisas pardas", que servia ao partido nazista (apesar de atuar de forma independente) como uma tropa de choque. Muito mais baderneiros do que um exército organizado, seu líder, Ernst Röhm, desejava transformar a SA como o embrião do novo exército alemão. Em 1934, a SA contava com 3 milhões de membros, mais membros que o próprio Reichswehr, o exército alemão do período Entre-Guerras. Isso causava um desconforto entre os oficiais do exército e fazia com que a SA não fosse vista com bons olhos. Röhm defendia a imposição do regime pela violência, o que era contra os princípios do partido. Hitler usufruía das ações da SA, mas não aprovava a idéia de transformá-la no exército, já que desejava o apoio dos verdadeiros militares. O presidente Paul von Hindenburg , detestava Röhm e considerava sua conduta homossexual reprovável. Era notória a conduta dissoluta e muitas vezes promíscua de boa parte dos membros da SA, que algumas vezes reuniam para festas particulares onde os excessos e comportamentos libidinosos eram o programa da noite. A gota d'água se deu quando Röhm fez declarações ambíguas dando a entender que seria mais forte que o Hitler e que seria o futuro do nazismo e do exército alemão. Na noite de 30 de junho de 1934, Hitler, outros líderes do partido nazista e oficiais da SS e da Gestapo, viajaram para Monique, onde aconteceria uma reunião entre os líderes da SA, e executaram muitos dos ali presentes, Ernst Röhm foi preso na cama onde dormia, bem como outros líderes. Um deles, Edmund Heines, foi flagrado com outro rapaz na cama quando recebeu voz de prisão. Em Berlim e em outras partes da Alemanha, outros membros da SA foram fuzilados, assassinados ou presos. A oportunidade abriu caminho para que muitos opositores políticos, sociais-democratas e comunistas também fossem presos ou mortos. No dia 02 de julho, Ernst Röhm foi morto em sua cela. O massacre foi tão violento que a opinião pública ficou chocada, mas logo foi apaziguada quando Goebbels, chefe da propaganda nazista, afirmou que tudo foi uma medida para salvar a Alemanha de um golpe contra o regime e o povo alemão. O próprio Hitler fez um pronunciamento em rádio explicando as razões que levaram ao expurgo, consolidando assim o seu poder (Já viram isso antes em algum filme de ficção? Com certeza sim!)
3. Alemanha, 1938, Kristallnacht (Noite dos Cristais): No dia 9 de novembro de 1938, em resposta ao assassinato de um diplomata alemão em Paris, Ernst von Rath, por um judeu polonês, Herschel Grynszpan, os nazistas iniciaram uma onde de quebra-quebras em toda a Alemanha e na Áustria, contra lojas de judeus, sinagogas e residências. Hitler ordena a Goebbels que instigasse dirigentes do partido nazista e as SA para que atacassem os judeus e suas propriedades. Em uma única noite, 91 pessoas foram mortas, 25 a 30 mil foram levadas aos campos de concentração, cerca de 7500 lojas e 1600 sinagogas foram reduzidas a escombros. Nos dias seguintes as autoridades alemãs cobraram dos judeus uma pesada multa indenizatória no valor de um bilhão de marcos pelas badernas daquela noite, destruições e prejuízos que eles próprios foram vítimas. O nome "Noite dos Cristais" deriva dos inúmeros vitrais das sinagogas e vitrines de lojas que foram quebradas.
4. Estados Unidos, 1942, Executive Order 9066 (Ordem Executiva 9066): Qualquer semelhança, não é mera coincidência. Pra quem achava que Ordem 66, proclamada por Palpatine e executada pelos clonetroopers tinha alguma coisa haver com o Número da Besta, 666, se enganou. Apesar da forte sugestão, a famigerada ordem 66 foi inspirada em um fato real, a Ordem Executiva 9066. Após ao ataque japonês que levou os Estados Unidos para a II Guerra Mundial, o presidente Franklin Delano Roosevelt, no dia 19 de Fevereiro de 1942, assinou a ordem executiva que determinava a prisão e confinamento em campos de trabalho (concentração) de todos os imigrantes japoneses (Isseis), assim como os seus filhos (Nisseis) e netos (Sanseis) residentes em território americano. Cerca de 120.000 nipo-americanos foram presos e levados aos campos, e a estes números foram acrescentados mais 11.000 alemães e 3000 italianos e alguns refugiados judeus. Os japoneses, em especial, foram separados dos prisioneiros de origem caucasiana e afastados da costa oeste. Tudo em nome da segurança e da ordem, boa parte dos imigrantes foram tratados com diferença por parte dos americanos de origem britânica. A Ordem 9066 também fomentou ainda mais o preconceito contra nativos americanos, por sua proximidade étnica com os orientais. Os campos de trabalho, que não passavam de campos de concentração como os dos alemães, apenas não apresentavam os horrores do holocausto, mas muitas privações e humilhações foram impetradas contra imigrantes japoneses.
5. Império Otomano, 1826, Vaka-i Hayriye (O Incidente Auspicioso): Também conhecido como "O Evento", foi o massacre empreendido pelo Sultão Mahmud II em junho de 1826, contra o Corpo dos Janízaros. O Corpo dos Janízaros é o equivalente ao Corpo dos Stormtroopers do Império Galáctico. O nome vem do turco, Yeni Tcheri, que significa "Nova Força". Os Janízaros eram muito tradicionais e compunham a elite do exército otomano. Participaram de todas as principais campanhas militares turcas, inclusive na tomada de Constantinopla, em 1453. Eram convocados para os momentos decisivos da batalha ou apenas como último recurso para garantir a vitória. Foi fundado por Muhad I em 1330, recrutando jovens e crianças cristãs, capturadas em batalha, ou recebidas como tributo pelos povos conquistados, escravizadas e, então, educadas na Lei Islâmica e na língua turca. Por muitas vezes os janízaros se rebelaram contra o sultão, e devido ao crescente prestígio e riqueza, ansiavam por mais poder dentro do império. Na última grande revolta, depuseram o sultão Selim III, em 1807, e colocaram no trono a Mahmud II. Selim tentara modernizar o exército turco aos moldes das potências européias, o que lhe valeu a deposição. Mas Mahmud também desejava a modernização do exercito, e com receio de ser deposto como seu antecessor, lançou o exército contra os janízaros, que haviam se revoltado mais uma vez. Os combates ocorreram em todo o império e cerca de 4000 homens morreram. Os demais sobreviventes foram executados ou exilados. O sultão confiscou todas as terras dos janízaros e se apoderou dos seus tesouros. Até 1922, os janízaros passaram a ser apenas a guarda pessoal do sultão e faziam apresentações de bandas marciais. Nunca mais fizeram parte das Forças Armadas Otomanas. Envolvendo esta história, há um caso interessante que lembra também os sith e os jedi. Nos combates entre os janízaros e as forças do sultão, outro corpo de armas, os Sipahis, a cavalaria de elite, era a contrapartida dos janízaros. Eram rivais declarados, e em 1826 foram uma peça fundamental para a dissolução do Corpo dos Janízaros.
6. Grande Império de Qing (China), 1647, Templo Shaolin: Quem nunca ouviu falar dos famosos monges guerreiros Shaolin? Eram os jedi da China. Mas ao contrário da famosa ordem sediada em Coruscant, eles não serviam ao estado e nem promoviam a paz e a justiça nas velhas terras de Qin Shi Huangdi. Os monges Shaolin eram monges por definição. Não se misturavam as pessoas comuns, viviam em reclusão para a prática da meditação e das técnicas das artes marciais, o Kung Fu Shaolin. Raramente desciam para cidades e em casos excepcionais, atendiam aos apelos dos governantes Mings, para servir em batalhas. Em 1644, a dinastia Ming caiu, e no seu lugar subiram os Qing, ou Manchus, que reinaram até 1911. No entanto, supostas denuncias as autoridades manchu, diziam que o templo estava abrigando alto-oficiais da dinastia Ming, e dando suporte a atividades Anti-Qing. Então, em 1647 (se bem que a data não é precisa, pois alguns historiadores afirmam que o acontecido se deu em 1674, ou em 1732, e ainda que a destruição na verdade ocorreu em etapas nestes respectivos anos), o Imperador Shunzhi, ordenou a invasão do templo e o extermínio de todos os monges e os conspiradores Ming. Após alguma resistência por parte dos monges, no fim, foram dizimados e o templo destruído. Apenas cinco mestres sobreviveram ao massacre e posterior perseguição. Estes foram para o norte, na Mongólia, e outro para o sul da China, de onde surgiram novos templos e os estilos Shaolin do Norte e Shaolin do Sul.
7. Reino da França, 1307, Prisão dos Templários no Castelo de Chinon: Este fato também tem muita semelhança com o Império e a Ordem Jedi pelo fato de se tratar de mais uma ordem monástica de guerreiros. Os Templários podem ser considerados os jedi da Europa medieval. A ordem foi fundada em 1119, e reconhecida oficialmente por Roma em 1129. Logo após a Primeira Cruzada, em 1096, a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, como era oficialmente chamada, em virtude de seu quartel general ser debaixo do complexo do antigo templo em Jerusalém (atualmente fica o Doma da Rocha), tinha a missão de defender os reinos cristãos recém-formados e proteger os peregrinos que iam visitar os lugares santos. Caiu muito rápido nas graças do povo, e dos países europeus. Tornou-se a maior recebedora de donativos, o que lhe valeu um crescimento rápido em número de membros e em poder econômico. Seus membros não-combatentes cuidavam das finanças e da administração de uma vasta infra-estrutura. Em pouco tempo, os Cavaleiros Templários deixaram de serem os "pobres cavaleiros de Cristo". Mas essa glória e prestígio durariam pouco, já que com a perda da Terra Santa para Saladino em 1187, a ordem perdeu o seu apoio. De volta a Europa, os templários se tornaram ricamente poderosos e a ordem começou a admitir membros de conduta duvidosa, por necessidade de contingente. A riqueza dos templários suscitou a cobiça do rei da França, Filipe IV, o Belo, e o Papa Clemente V, que também temiam a influência da ordem, já que Filipe estava afundado em dívidas, e os cavaleiros templários eram mais ricos que a própria França. Foi então que Felipe IV divulgou boatos de que os cavaleiros templários eram hereges e fez denúncias ao tribunal da Inquisição. Apesar do Papa ter inocentado a Ordem, no entanto ele não livrou os seus membros da morte. Todos foram "condenados" a "Morte Honrosa", destinada a aqueles que obtiveram a absolvição e a graça divina. As prisões se deram no dia 13 de outubro (uma sexta-feira) de 1307, quando todos os templários da França foram chamados a comparecer diante do rei no Castelo de Chinon (vocês lembram-se de algo semelhante?). Quem chegava para a audiência com o rei era imediatamente preso, e torturado até que se obtivesse uma confissão de heresia. Os que não foram presos em Chinon foram perseguidos e assassinados pelo exército francês e pela Inquisição. Porém, os últimos sobreviventes se mudaram da França para a Escócia, onde permaneceram até desaparecerem por completo.
Dizem que a vida imita a arte, mas no caso do Império Galáctico, é a arte que imita a vida. Após exaustiva pesquisa, me fascinei ainda mais por Star Wars, ao ver quantas inspirações e menções a vida real trouxe para dentro da saga mais lembrada do cinema. E ainda mais ao Império Galáctico, que possui tantas referências que nem mesmo eu sabia que existiam, antes de escrever esta coluna, que de tão grande tive que dividir em duas.
Espero que tenham gostado da leitura e aguardem pelo próximo, PARALELOS III. Tentem adivinhar sobre "o quê" será.
O Império Francês: Por incrível que pareça, mas o Império Galáctico e Palpatine têm algumas semelhanças com a França Revolucionária e ninguém menos que Napoleão Bonaparte.
Durante o período do Terror, alguns revolucionários ligados a burguesia deram um golpe que ficou conhecido como 9 Termidor, que no calendário gregoriano corresponde a 27 de julho de 1794. O golpe instaurou o Diretório, onde a República Francesa era governada por cinco diretores e legislada por duas câmaras. Mas apesar do sucesso inicial, a Diretório não conseguiu resolver problemas inflacionários e de extrema corrupção. A França clamava por um homem forte. Atendendo a este pedido, Napoleão volta de sua campanha no Egito e dá um novo golpe de estado, o 18 Brumário (9 de novembro de 1799), derrubando o Diretório e instaurando o Consulado. O executivo era composto de 3 cônsules eleitos pelo Senado (legislativo). Mas o Primeiro Cônsul, Napoleão, detinha amplos poderes. Para fazer valer suas decisões e justificar suas medidas autoritárias, Napoleão submetia tudo à aprovação popular, que apoiava seu governo por meio de plebiscitos. Com as várias vitórias contra as potências européias, Napoleão ganhou prestígio e a simpatia do povo, também por seus feitos internos, como a reconstrução da economia e a inauguração de obras públicas.
Notem agora o curioso da história: Para garantir a estabilidade da nação e da economia, bem como a segurança da sociedade (já viram e ouviram isso antes, não?), Napoleão levou a voto popular a sua coroação como Imperador da França, que foi aprovada com esmagadora maioria, e levada a cabo com uma grande festa (estrondoso aplauso, como diria Padmé Amidala) de em 2 de dezembro de 1804. Napoleão reinou soberano, mas a França já começava a dar sinais de fraquesa. Após a desastrosa campanha contra a Rússia em 1812, a França teve que lutar contra a Prússia, Inglaterra, Suécia e Áustria, sem sucesso, e em 1814 as forças de coalizão marcharam sobre Paris e depuseram o Imperador. Mas nem tudo estava perdido. Em uma última tentativa, Napoleão retorna ao poder em 1815, para o Governo dos Cem Dias, com o objetivo de vingar a si a ao país. É derrotado e vai para o exílio em Santa Helena.
Doutrina Tarkin: Estes três fatos históricos sobre o Império Galáctico tem paralelos interessantes com a realidade.
A primeira delas que quero comentar é a Doutrina Tarkin. Esta doutrina, como ficou conhecida, foi na verdade uma carta endereçada ao Imperador, escrita por Grand Moff Tarkin, que na época era apenas Moff, sugerindo ao Imperador que, para conter possíveis rebeliões e aumentar o controle sobre os sistemas mais exaltados, fosse criado os Oversectors, governados pelos Grand Moffs, principalmente nos territórios da Orla Exterior. Além de descentralizar ainda mais o governo, facilitando o controle, os Grand Moffs responderiam diretamente ao Imperador. A Doutrina Tarkin também previa o uso intensivo da Holonet para coordenar Grupos de Setores, além de adotar uma política extremamente repressiva, impondo o poder pela força das armas. Contemplava também criação e o uso de uma super arma como símbolo do medo. O Imperador ficou tão impressionado com as sugestões da carta, que as implementou imediatamente e promoveu Tarkin ao recém-criado posto de Grand Moff.
A Doutrina Tarkin é semelhante à política adotada pelo Império de Qin. Por volta do século III, à China era dividida politicamente por sete reinos independentes, herdeiros da Dinastia Zhou. O mais poderoso deles era o Reino de Qin (Jin, ou ainda Chin, de onde vem o nome China). No final deste período, conhecido como Período dos Reinos Combatentes, o rei de Qin, o jovem Zheng de 38 anos, havia derrotado todos os demais seis estados combatentes e unificado a China sob o Reino de Qin, por volta de 214 a. C., quando também assumiu o título de Qin Shi Huangdi, o Primeiro Imperador de Qin. O antigo Reino de Qin adotava como filosofia política o Legalismo, pelo qual enfatizava a observância estrita de um código legal e o poder absoluto do monarca. Tal filosofia foi trazida para dentro do novo estado unificado da China, obrigando qualquer outra filosofia ser banida. O Legalismo legitimava o poder pela força e a opressão pelo medo. O Imperador governava com mão de ferro e geria a todos os assuntos internos, inclusive assuntos particulares. Todos os opositores políticos eram brutalmente silenciados e o seu ápice se deu quando muitos acadêmicos e filósofos confucionistas foram enterrados vivos em cerimônias fúnebres, bem como milhares de livros foram queimados. Tais medidas foram sistematizadas em um código legal, graças ao intelectual e oportunista político, Li Si, que foi nomeado primeiro-ministro e chefe de governo do Imperador. Neste aspecto, Li Si pode ser comparado às figuras de Grand Moff Tarkin e Sate Pestage juntos.
A Doutrina Tarkin, em outros aspectos, via a ação militar e o uso da Frota Imperial como uma maneira eficaz de manter a ordem e conter o avanço de rebeliões. Não poucas operações militares foram realizadas contra sistemas hostis, entre 18 e 1 BBY. Qualquer sinal de oposição ao regime era punido com massiva intervenção imperial e ocupação militar. Estas medidas também foram uma realidade durante a Guerra Fria, quando a URSS e os Estados Unidos se disputavam a influência sobre o mundo. A Doutrina Truman e o Macarthismo deram um caráter opressor à política interna americana, principalmente aos que tinha idéias socialistas, durante as décadas de 50 e 60, bem como fazia com que a ajuda financeira a países do Leste Europeu e Oriente Médio, bem como a Guerra do Vietnã, se tornassem expressões desta tentativa de salvaguardar os regimes capitalistas do avanço comunista.
Mas a URSS também tinha a sua Doutrina Tarkin, ou melhor dizendo, a Doutrina Brejnev, concebida por Leonid Brejnev, que afirmava que em caso de ameaça a ordem socialista nos estados membros do Pacto de Varsóvia ou a qualquer outra nação comunista, o Estado Soviético tinha total poder de intervir diretamente na política e na economia de tal nação. Mas, principalmente, intervir militarmente. Foi um resultado direto da Primavera de Praga, na década de 70 e que levou a URSS a invadir o Afeganistão em 79.
A Ordem 66 e o Grande Expurgo Jedi: Estes dois eventos têm similaridades com alguns eventos históricos muito semelhantes entre si e entre a ficção.
O Grande Expurgo Jedi, iniciado logo após as primeiras execuções da Ordem 66, e que durou até a fragmentação do Império (pelo menos oficialmente o Imperador nunca ordenou o fim da perseguição), pode atribuir a sua inspiração a eventos históricos espalhados, ao longo da história de alguns povos e nações. Vamos aos fatos:
1. URSS, 1934, Большая чистка (O Grande Expurgo): Foi uma ação persecutória impetrada por Josef Stalin, que se encerrou em 1939, com o início da II Guerra Mundial. Súbita e sem explicação alguma, o ditador soviético aniquilou mais da metade dos membros do partido comunista, mais de cinco mil oficiais do Exército Vermelho e incontáveis civis, todos considerados "inimigos do povo". Alguns dos mortos eram opositores do governo, no que se refere aos planos de reforma econômica, os Planos Qüinqüenais, mas a maior parte das vítimas não tinha nenhum indício de oposição direta ao governo. A principal vítima dos delírios persecutórios de Stalin foi Leon Trotsky. O resultado do evento foi que o partido ficou esfacelado, bem como a liderança do exército perdeu seus oficiais mais experientes e capacitados, deixando um vácuo que se mostrou difícil de ser preenchido, o que prejudicou o esforço de guerra contra a Wehrmacht.
Ernst Röhm |
3. Alemanha, 1938, Kristallnacht (Noite dos Cristais): No dia 9 de novembro de 1938, em resposta ao assassinato de um diplomata alemão em Paris, Ernst von Rath, por um judeu polonês, Herschel Grynszpan, os nazistas iniciaram uma onde de quebra-quebras em toda a Alemanha e na Áustria, contra lojas de judeus, sinagogas e residências. Hitler ordena a Goebbels que instigasse dirigentes do partido nazista e as SA para que atacassem os judeus e suas propriedades. Em uma única noite, 91 pessoas foram mortas, 25 a 30 mil foram levadas aos campos de concentração, cerca de 7500 lojas e 1600 sinagogas foram reduzidas a escombros. Nos dias seguintes as autoridades alemãs cobraram dos judeus uma pesada multa indenizatória no valor de um bilhão de marcos pelas badernas daquela noite, destruições e prejuízos que eles próprios foram vítimas. O nome "Noite dos Cristais" deriva dos inúmeros vitrais das sinagogas e vitrines de lojas que foram quebradas.
4. Estados Unidos, 1942, Executive Order 9066 (Ordem Executiva 9066): Qualquer semelhança, não é mera coincidência. Pra quem achava que Ordem 66, proclamada por Palpatine e executada pelos clonetroopers tinha alguma coisa haver com o Número da Besta, 666, se enganou. Apesar da forte sugestão, a famigerada ordem 66 foi inspirada em um fato real, a Ordem Executiva 9066. Após ao ataque japonês que levou os Estados Unidos para a II Guerra Mundial, o presidente Franklin Delano Roosevelt, no dia 19 de Fevereiro de 1942, assinou a ordem executiva que determinava a prisão e confinamento em campos de trabalho (concentração) de todos os imigrantes japoneses (Isseis), assim como os seus filhos (Nisseis) e netos (Sanseis) residentes em território americano. Cerca de 120.000 nipo-americanos foram presos e levados aos campos, e a estes números foram acrescentados mais 11.000 alemães e 3000 italianos e alguns refugiados judeus. Os japoneses, em especial, foram separados dos prisioneiros de origem caucasiana e afastados da costa oeste. Tudo em nome da segurança e da ordem, boa parte dos imigrantes foram tratados com diferença por parte dos americanos de origem britânica. A Ordem 9066 também fomentou ainda mais o preconceito contra nativos americanos, por sua proximidade étnica com os orientais. Os campos de trabalho, que não passavam de campos de concentração como os dos alemães, apenas não apresentavam os horrores do holocausto, mas muitas privações e humilhações foram impetradas contra imigrantes japoneses.
5. Império Otomano, 1826, Vaka-i Hayriye (O Incidente Auspicioso): Também conhecido como "O Evento", foi o massacre empreendido pelo Sultão Mahmud II em junho de 1826, contra o Corpo dos Janízaros. O Corpo dos Janízaros é o equivalente ao Corpo dos Stormtroopers do Império Galáctico. O nome vem do turco, Yeni Tcheri, que significa "Nova Força". Os Janízaros eram muito tradicionais e compunham a elite do exército otomano. Participaram de todas as principais campanhas militares turcas, inclusive na tomada de Constantinopla, em 1453. Eram convocados para os momentos decisivos da batalha ou apenas como último recurso para garantir a vitória. Foi fundado por Muhad I em 1330, recrutando jovens e crianças cristãs, capturadas em batalha, ou recebidas como tributo pelos povos conquistados, escravizadas e, então, educadas na Lei Islâmica e na língua turca. Por muitas vezes os janízaros se rebelaram contra o sultão, e devido ao crescente prestígio e riqueza, ansiavam por mais poder dentro do império. Na última grande revolta, depuseram o sultão Selim III, em 1807, e colocaram no trono a Mahmud II. Selim tentara modernizar o exército turco aos moldes das potências européias, o que lhe valeu a deposição. Mas Mahmud também desejava a modernização do exercito, e com receio de ser deposto como seu antecessor, lançou o exército contra os janízaros, que haviam se revoltado mais uma vez. Os combates ocorreram em todo o império e cerca de 4000 homens morreram. Os demais sobreviventes foram executados ou exilados. O sultão confiscou todas as terras dos janízaros e se apoderou dos seus tesouros. Até 1922, os janízaros passaram a ser apenas a guarda pessoal do sultão e faziam apresentações de bandas marciais. Nunca mais fizeram parte das Forças Armadas Otomanas. Envolvendo esta história, há um caso interessante que lembra também os sith e os jedi. Nos combates entre os janízaros e as forças do sultão, outro corpo de armas, os Sipahis, a cavalaria de elite, era a contrapartida dos janízaros. Eram rivais declarados, e em 1826 foram uma peça fundamental para a dissolução do Corpo dos Janízaros.
6. Grande Império de Qing (China), 1647, Templo Shaolin: Quem nunca ouviu falar dos famosos monges guerreiros Shaolin? Eram os jedi da China. Mas ao contrário da famosa ordem sediada em Coruscant, eles não serviam ao estado e nem promoviam a paz e a justiça nas velhas terras de Qin Shi Huangdi. Os monges Shaolin eram monges por definição. Não se misturavam as pessoas comuns, viviam em reclusão para a prática da meditação e das técnicas das artes marciais, o Kung Fu Shaolin. Raramente desciam para cidades e em casos excepcionais, atendiam aos apelos dos governantes Mings, para servir em batalhas. Em 1644, a dinastia Ming caiu, e no seu lugar subiram os Qing, ou Manchus, que reinaram até 1911. No entanto, supostas denuncias as autoridades manchu, diziam que o templo estava abrigando alto-oficiais da dinastia Ming, e dando suporte a atividades Anti-Qing. Então, em 1647 (se bem que a data não é precisa, pois alguns historiadores afirmam que o acontecido se deu em 1674, ou em 1732, e ainda que a destruição na verdade ocorreu em etapas nestes respectivos anos), o Imperador Shunzhi, ordenou a invasão do templo e o extermínio de todos os monges e os conspiradores Ming. Após alguma resistência por parte dos monges, no fim, foram dizimados e o templo destruído. Apenas cinco mestres sobreviveram ao massacre e posterior perseguição. Estes foram para o norte, na Mongólia, e outro para o sul da China, de onde surgiram novos templos e os estilos Shaolin do Norte e Shaolin do Sul.
7. Reino da França, 1307, Prisão dos Templários no Castelo de Chinon: Este fato também tem muita semelhança com o Império e a Ordem Jedi pelo fato de se tratar de mais uma ordem monástica de guerreiros. Os Templários podem ser considerados os jedi da Europa medieval. A ordem foi fundada em 1119, e reconhecida oficialmente por Roma em 1129. Logo após a Primeira Cruzada, em 1096, a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, como era oficialmente chamada, em virtude de seu quartel general ser debaixo do complexo do antigo templo em Jerusalém (atualmente fica o Doma da Rocha), tinha a missão de defender os reinos cristãos recém-formados e proteger os peregrinos que iam visitar os lugares santos. Caiu muito rápido nas graças do povo, e dos países europeus. Tornou-se a maior recebedora de donativos, o que lhe valeu um crescimento rápido em número de membros e em poder econômico. Seus membros não-combatentes cuidavam das finanças e da administração de uma vasta infra-estrutura. Em pouco tempo, os Cavaleiros Templários deixaram de serem os "pobres cavaleiros de Cristo". Mas essa glória e prestígio durariam pouco, já que com a perda da Terra Santa para Saladino em 1187, a ordem perdeu o seu apoio. De volta a Europa, os templários se tornaram ricamente poderosos e a ordem começou a admitir membros de conduta duvidosa, por necessidade de contingente. A riqueza dos templários suscitou a cobiça do rei da França, Filipe IV, o Belo, e o Papa Clemente V, que também temiam a influência da ordem, já que Filipe estava afundado em dívidas, e os cavaleiros templários eram mais ricos que a própria França. Foi então que Felipe IV divulgou boatos de que os cavaleiros templários eram hereges e fez denúncias ao tribunal da Inquisição. Apesar do Papa ter inocentado a Ordem, no entanto ele não livrou os seus membros da morte. Todos foram "condenados" a "Morte Honrosa", destinada a aqueles que obtiveram a absolvição e a graça divina. As prisões se deram no dia 13 de outubro (uma sexta-feira) de 1307, quando todos os templários da França foram chamados a comparecer diante do rei no Castelo de Chinon (vocês lembram-se de algo semelhante?). Quem chegava para a audiência com o rei era imediatamente preso, e torturado até que se obtivesse uma confissão de heresia. Os que não foram presos em Chinon foram perseguidos e assassinados pelo exército francês e pela Inquisição. Porém, os últimos sobreviventes se mudaram da França para a Escócia, onde permaneceram até desaparecerem por completo.
Dizem que a vida imita a arte, mas no caso do Império Galáctico, é a arte que imita a vida. Após exaustiva pesquisa, me fascinei ainda mais por Star Wars, ao ver quantas inspirações e menções a vida real trouxe para dentro da saga mais lembrada do cinema. E ainda mais ao Império Galáctico, que possui tantas referências que nem mesmo eu sabia que existiam, antes de escrever esta coluna, que de tão grande tive que dividir em duas.
Espero que tenham gostado da leitura e aguardem pelo próximo, PARALELOS III. Tentem adivinhar sobre "o quê" será.
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