sexta-feira, 15 de abril de 2011

ALLAHU AKBAR E A TROCA DO SEIS PELA MEIA DÚZIA

Praça Tahrir, no Cairo, em festa pela queda de Hosni Mubarak

Por Demetrius Farias

Allahu Akbar, em português, significa "Allah é grande", um expressão árabe de reverência ao deus Allah que funciona como uma declaração de fé, um credo, e que recebe o nome de Takbir (ou Takbeer). Eu prefiro dizer: الرب هو أعظم!

Mas tudo bem...

O Takbir é uma expressão que encontra-se na bandeira de alguns países islâmicos. Pode-ser ver o Takbir na bandeira do Iraque, Arábia Saudita, Afeganistão e na bandeira do Irã. Allahu Akbar, também é o título do Hino Nacional da Líbia, que originalmente foi uma marcha egípcia muito cantada durante a Guerra do Canal de Suez, em 1956, e que se tornou popular no Egito e a Síria. Em 1969, o líder líbio, coronel Muammar al-Khadafi, no afã de unir todos os árabes em um único estado, adotou o hino Allahu Akbar, como símbolo nacional da Líbia.


Mohamed Bouazizi
Líbia, Egito, Síria, Allahu Akbar... o que todas estas coisas tem em comum? Vou dizer. Tudo começou em em 18 de dezembro de 2010, em um reino a meio caminho das terras atomicamente contaminadas do Japão, conhecido como "Mundo Árabe". Neste vasto reino de desertos e belas palmeiras (e camelos), um levante na Tunísia ficou conhecido como "A Revolução de Jasmim". Os protestos na Tunísia começaram logo depois que Mohamed Bouazizi, um vendedor ambulante de 26 anos, ateou fogo a si próprio em protesto contra o governo regional injusto e corrupto que havia lhe subtraido sua balança e o proibido de vender suas frutas e legumes (Conheça a História de Bouazizi). As manifestações e revoltas tomaram conta da Tunísia, e logo explodiram por outros países árabes. Tais protestos são voltados contra governos ditatoriais e líderes corruptos. Estes governos são, em muitos casos, apoiados pelo Ocidente, que via neles uma forma de barrar o avanço do comunismo durante a Guerra Fria e, atualmente, deter os movimentos extremistas islâmicos. Somado a isso, dá-se o fato de que as elites enriquecem assustadoramente ao longo dos anos, o povo sofre com altas taxas de desemprego e pobreza, que era a realidade e o dia-a-dia de Bouazizi. Resultado: Em 14 de janeiro de 2011, o presidente da Tunísia, Ben Ali, que governava o país desde 1987, renunciou e fugiu para a Arábia Saudita. Em 27 de janeiro, um novo governo foi formado, sem os líderes de Ben Ali, mas com trinta dias depois, o mesmo também apresentou fraquesas, já que seu primeiro-ministro "pediu pra sair". Hoje há instabilidade no país e sofrendo com a possibilidade de grupos e partidos islâmicos, incluindo um braço da chamada "Irmandade Muçulmana". Allahu Akbar!

Faraó Hosni Mubarak
Dias depois da saída do ditador Ben Ali da Tunísia, os olhos do mundo se voltaram para o Egito. Em 25 de janeiro, conhecido como "O Dia da Ira", eclodiu as revoltas em massa em todo o Egito, contra o regime do ditador Hosni Mubarak, presidente do Egito desde 1981. A revolução no Egito ficou conhecida como a "Revolução do Lótus" ou a "Revolução do Nilo". Na esteira da Tunísia, o Egito se revoltou contra trinta anos de ditadura. Os principais motivos para o início das manifestações e tumultos foram a violência policial, leis de estado de exceção, o grave problema de desemprego no país, aumento do salário mínimo, moradia, inflação, corrupção, falta de liberdade de expressão, e más condições de vida da população. Gente de todas as classes sociais se uniram em grandes protestos por todo o Egito, e em 11 de fevereiro, o governo anuncia a renúncia de Mubarak, e hoje o ex-presidente sofre a ameaça de prisão e julgamento. Antes de cair, o presidente havia prometido reformas, mudanças de figuras políticas em cargos do governo e novas eleições presidenciais em setembro de 2011, mas o estrago já estava feito. O país, atualmente, está sendo dirigido por uma Junta Militar Provisória (?). Os possíveis problemas advindos da queda de Mubarak é a tomada do poder, por grupos Islâmicos, principalmente a "Irmandade Muçulmana", que possui base no Egito e era forte opositora do regime de deposto. Allahu Akbar!

Rebeldes Líbios
Em 13 de fevereiro de 2011, inicia-se os protestos e manifestações sociais, semelhantes as que ocorreram no Egito, nas terras do louco coronel Muammar Khadafi, a Líbia. Khadafi governa o país desde 1969, e está no poder a quarenta e dois anos. Ditador megalomaníaco (graças a Yahweh, menos que Hitler, Stalin e Mussolini), Khadafi anunciou (27 de janeiro) fundos para habitação, na tentativa de conter o "Efeito Dominó" que se aproximava de seu país, já que grandes protestos se organizavam e começavam a fazer barulho. Com a adesão de intelectuais aos manifestantes, começaram as prisões em 01 de fevereiro. Os manifestantes exigem reformas sócio-políticas, liberdade, democracia de fato, fim da corrupção e desrrespeito aos Direitos Humanos, além de distribuição igualitária de riquezas. Os manifestos se iniciam no dia 15, mas no dia seguinte, em 16 de fevereiro, o governo líbio resolve aniquilar com os protestos usando a força bruta, o que resultou em 20 mortes. No dia 17 de fevereiro, aconteceu " O Dia da Raiva" contra Khadafi. O mundo fica estarrecido com a escalada de violência. O governo bombardeia os manifestantes indiscriminadamente e franco atiradores passam a atuar contra a população que se identificava com os revoltosos. Grupos leais a Khadafi passam atacar os Manifestantes, e a crise se degenera em Guerra Civil (veja a Cronologia dos fatos na Líbia aqui). A Revolta ganha força armada, já que no leste do país, Cirenaica, a maior parte do Exército Líbio passou para o lado dos manifestates, e o restante fugiu para áreas sob controle de Trípoli, deixando armas e munições nas mãos dos revoltosos. Agora várias cidades entre o leste e o oeste da Líbia sofrem com constantes ocupações, hora por forças rebeldes, hora por Oficialistas (apoiadores do regime) e tropas do governo. Em 17 de março, a ONU aprova a Resolução 1973 que permite os seus países membros do Conselho de Segurança a tomar todas as medidas necessarias para proteger o povo líbio, cria uma Zona de Exclusão Aérea, e determina que ações militares proibem a ocupação militar por forças de outros países, exigindo o cessar-fogo de Khadafi. Com isso, inicia-se a "Operação Amanhecer da Odisséia", nome dado a intervenção militar na Líbia, em 19 de março, após o Japão tirar a atenção do mundo sobre a Líbia, com uma catastrofe natural (terremoto e tsunami na Região de Sendai), que lançou o país no caos de abastecimento de toda espécie, além da Sombra da Contaminação Nuclear, vindo das usinas atômicas de Fukushima. アッラーフ-アクバル! (Arrāfu - akubaru!)
Khadafi em evento oficial

O efeito dominó se extendeu por outros países árabes e não-árabes. Na Argélia, os protestos resultaram no fim do Estado de Emergência; na Jordânia, pequenos protestos forçaram mudanças no governo; na Mauritânia ocorreu mais uma autoimolação, a semelhança do ato de Bouazizi; em Omã, pequenos protestos forçaram o sultão a reajustar o salário mínimo dos trabalhadores do setor privado; no Iêmen, cujas manifestações eram praticamente simultâneas as do Egito, o presidente Saleh prometeu não mais concorrer a presidêcia, após grandes protestos que rejeitaram suas propostas; e na Arábia Saudita, o rei teve que "correr da sala para a cozinha", para  evitar ondas de protestos. Alguns países africanos também embarcaram no "Bonde da Revolta". Os Protestos no Mundo Árabe se alastraram como fogo na palha, e resultaram em reformas e ações que, no mínimo, aplacaram ânimos mais exaltados e mantiveram o status quo de alguns políticos.

Mas o que tem perturbado alguns especialista no assunto, e que não tem sido notado pelos líderes ocidentais e a "imprensa burra", é que se estes regimes caem, abre-se a Caixa de Pandora sobre o Oriente Médio e o Norte da África. Entendam bem, eu não sou favorável a ditaduras como a dos países citados, mas se estes governos caem sem deixar no lugar verdadeiras democracias, como os EUA e a UE acham que vão conseguir apoiar. Então o caminho fica aberto para movimentos políticos e partidos fundamentalistas islâmicos, que apenas esperam o momento certo para atacar e sublevar as massas desprovidas de inteligência e cultura. Se isso não for verdade, vejamos alguns detalhes importantes.

Na Tunísia e no Egito, países com forte presença de partidos políticos de cunho fortemente religioso, como a Irmandade Muçulmana, por exemplo, os protestos foram apoiados tanto por ocidentais, como outros países de Ásia e inclusive o Irã, que se manifestava de forma a impulsionar os movimentos a crescerem e se tornarem mais fortes. Curiosamente, o Irã não fez o mesmo com relação a Líbia. Qual a razão? O Irã é um dos países com governo islâmico que mais financia e apóia movimentos e partidos fundamentalistas em países árabes e não-árabes, inclusive em alguns países no Ocidente. Enquanto na Tunísia e no Egito, os objetivos das revoltas foram alcançados sem a participação de agentes como os EUA ou de países europeus, sendo algo exclusivo da parte das populações locais, o Irã passou a apoiar abertamente a queda de ditadores militares, na maioria sunitas, porém que haviam feito paz com Israel. Se estes governos caíssem, a população sentiria o hiato criado por eles mesmo, e assim deixaria o caminho desobstruido para quem odiasse Israel ao ponto de romper acordos bilaterais, e instaurar ditaduras religiosas. No caso da Líbia, Muammar Khadafi é um inimigo declarado de Israel e financiador de terroristas muçulmanos pelo mundo. Como as revoltas na Líbia descambaram para a guerra civil, com mortes de civis inocentes, o Ocidente resolveu agir, a ficar como espectador da tragédia que se abateria sobre os rebeldes. Com o alarde de Khadafi e seus aliados de que tudo aquilo era uma estratagema dos EUA para se apoderar do petróleo líbio, com a ajuda de Israel, isto se tornou a cortina de fumaça para as intenções de apoio do Irã. A imprensa noticia, e os lulistas de Dilma falam por ela, condenando os bombardeios da OTAN a alvos de Khadafi. O Irã passou a apoiar Khadafi, alegando que a intervenção ocidental simbolizava uma invasão ao Mundo Árabe. Com a ONU, OTAN e UE na cabeça de Khadafi para vigiá-lo em tudo, uma possível queda do atual governo pode significar uma volta dos monarquistas líbios (incerto), cuja bandeira líbia do perídodo monárquico tem sido o símbolo da rebelião. Isto atrapalha, e muito, qualquer tentativa de instalação de uma República Islâmica Líbia, fazendo com que o Irã perca um aliado valioso. Equanto o Ocidente aplaude com alegria as resolvas sociais no Oriente Médio e África, achando que as coisas por lá funcionam da mesma forma como funcionam aqui, os extremistasm se movem.

A impressão lógica que se tem é que, mesmo desejando melhoria de vida e liberdade, os povos árabes não sabem viver se não for com a ponta da espada em suas costas. O Egito derrubou Mubarak, mas ficou o impasse... Quem vai governar o país árabe mais forte do mundo? A Irmandade Muçulmana? Algum filhote do Bin Laden? Ou quem sabe um outro governo militar? Dito e feito!

Aiatolá Muqtada al-Sadr, dos Mahdi do Iraque
Quando se pensa a expressão "Mundo Árabe", deve entender como um outro mundo realmente diferente. O problema dos ocidentais é desejar que os árabes vivam de acordo com princípios e com base em experiências que eles nunca tiveram. Lembram-se do Iraque? A pretesto da existência de armas de destruição em massa (nunca provado, e nunca existiu), os EUA derrubam Saddam Hussein e tentam importar para a mente dos iraquianos que eles devem ter um governo democrático e livre, como nos países do ocidente. E o que aconteceu? O povo que estava descontente se sublevou, mas o que restou para eles fazerem? Mais nada. O país caiu no caos político e nas mãos de grupos rivais, aiatolás, imãs, a al-Qaeda, o Estado Islâmico do Iraque, o Exército Mahdi, entre outros. O Governo Provisório, apoiado pelos americanos é ridículo e fraco, que não consegue se impor sobre os movimentos radicais. Hoje o Iraque é uma terra de ninguém e sem lei. Engano nosso em achar que, quando os americanos forem embora definitivamente do Iraque, este será uma república democrática alinhada com os EUA. De certo, a nação cairá em guerra civil ou disputas de poder entre xeques e a possível "Iranização" do Iraque, em uma revolução islâmica. O mesmo se vê no Afeganistão, que mesmo depois de anos de ocupação americana, o Talibã e a al-Qaeda ameaçam constantemente voltar ao comando do país, assim que os EUA deixarem o lugar vago. Enquanto isso Hamid Karzai joga com todos os times para poder fazer valer seu mandato, já que foi eleito pelo povo (até onde ele puder).

Em suma, cada revolta, revolução, protestos e pequenas manifestações nestes países só garantem uma coisa: que sai um ditador para entrar outro. A ideologia nem mesmo muda muito, pois tudo é permeado pelo islamismo de qualquer forma. Troca-se, como diz o ditado popular, "seis por meia dúzia", e no final, todos voltam a cantar: Allahu Akbar!

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