sábado, 25 de dezembro de 2010

INIMIGOS NO SENADO: A PRESENÇA DE SEPARATISTAS NO CONGRESSO DA REPÚBLICA GALÁCTICA

Por Darth Metrius
Após os últimos episódios da terceira temporada de Star Wars - The Clone Wars até agora, fiquei com a pulga atrás da orelha ao observar que Dave Filoni, diretor geral da série, tem apresentado alguns personagens de natureza intrigante em contextos totalmente inadequados, se pensados em termos de realidade. Ao iniciar com este comentário, ainda não muito explicativo, abro mais este artigo com um problema muito interessante criado na referida série: a presença ativa de senadores separatista no Congresso da República Galáctica. Inimigos da República atuando livremente dentro do próprio Senado!

Para começar a expor minhas dúvidas quanto a isso, é necessário voltarmos no tempo e recapitularmos alguns fatos do início das Guerras Clônicas:

1. Geonosis, 22 BBY: Obi-Wan Kenobi segue o rastro do caçador-de-recompensas, Jango Fett, até o árido planeta, Geonosis. Obi-Wan, logo que chega ao planeta, Obi-Wan descobre que os Geonosianos estão envolvidos com os separatistas de Conde Dooku, e a eles se uniram a Federação do Comércio, o Clã Bancário, a União Tecnológica e a Associação Comercial, entre outras guildas. Pouco antes de Obi-Wan ser capturado, ele pede a Anakin que retransmita uma mensagem para Coruscant, revelando toda a trama separatista e o envolvimento das corporações e associações por meio de seus líderes. A mensagem é recebida no gabinete do Supremo Chanceler Palpatine e é assistida por alguns jedi do Conselho, por senadores e pelo Chanceler e seu gabinete.
2. Ao iniciar a guerra, a República imediatamente se vê diante de um exército de dróides de fabricação oriunda das guildas e associações signatárias dos Artigos de Secessão. Uma evidência clara de que, no mínimo, tais empresas e corporações eram fornecedoras de armas e meios de guerra para os separatistas.
3. Coruscant e Cato Neimoidia (21 ou 20 BBY?): A Chancelaria e o Conselho Jedi desconfiam de que o senador de Scipio, Rush Clovis, esteja colaborando com os separatistas. A suspeita gera uma missão de espionagem disfarçada de visita oficial. Padmé descobre os planos do Clovis para financiar a fabricação de dróides e armas em Geonosis (nos subterrâneos do planeta), como membro do Clã Bancário. Padmé sofre uma tentativa de homicídio por envenenamento, mas é salva a tempo. Estes fatos podem ser vistos no capítulo 04 da segunda temporada de The Clone Wars. Nele descobre-se que tanto Scipio e Cato Neimoidia ainda estão na República, muito embora sejam mundos separatistas, sendo Cato Neimoidia uma das capitais da Federação do Comércio.
4. Ryloth e Toydaria: Durante a guerra, Ryloth é ocupada pelo exército separatista e cercada pela sua armada confederada. Sem linhas de suprimentos, o bloqueio planetário torna a vida dos moradores de Ryloth em um sofrimento terrível. O sistema mais próximo é Toydaria, e o Senador Bail Organa e o Representante Binks são enviados para tentar conseguir que Toydaria seja uma base para a República enviar suprimentos ao povo de Ryloth. Em meio as negociações, surge mais uma vez o Senador Lott Dod (que recebeu em Cato Neimoidia Padmé e Clovis), entra em cena e argumenta que Toydaria não poderia ajudar Ryloth, pois esta era uma zona de guerra, o que acabaria com a neutralidade de Toydaria no conflito. Em nome da defesa de tratados comerciais entre Toydaria e a Federação do Comércio, Lott Dod argumenta que se Toydaria se tornasse uma base militar da República, também se tornaria um alvo em potencial para os separatistas. Mas as tentativas de Lott Dod em impedir a República de ajudar Ryloth se frustram, já que o rei de Toydaria envia ajuda humanitária em secreto para a Ryloth.
5. Bloqueio de Pantora: Reeditando o cerco e invasão a Naboo, em 32 BBY, a Federação do Comércio bloqueia o planeta Pantora, alegando que este mantém dívidas com a Federação do Comércio. Tudo isso não passava um plano para desestabilizar o governo de Pantora e fazê-lo se voltar para os Separatistas que já lhe haviam prometido revolver o impasse caso se unissem a causa Confederada. Neste evento, a Federação do Comércio, na voz de Lott Dod, alega que o bloqueio é legal e invoca o Tratado de Comércio de 1647, que garante a neutralidade da Federação, mas que em nada indica em que circunstâncias ela foi criada e a que agenda pertence. Após uma ação ousada do Barão Papanoida, Presidente de Pantora, sua senadora e da padawan Ahsoka Tano, foi descoberto a tentativa de forçar uma união entre os separatistas e Pantora por meio do sequestro das filhas do presidente. Com o incidente resolvido, o senador Lott Dod, tenta disfarçar a situação de envolvimento da Federação do Comércio com os confederados separatistas, dizendo que Nute Gunray é o único responsável.
6. Atentado contra os Geradores de Forca de Coruscant: O Congresso da República se prepara para votar a compra de mais 5 milhões de tropas clone para o esforço de guerra contra a Confederação, com o apoio dos senadores de Umbara, Kamino, Federação do Comércio e Tibrin, que na verdade trabalhavam ou em patriotismo Pró-Republica (Umbara), ou em favor de lucros pessoais (Kamino) e colaboração secreta com os separatistas (Tibrin e Federação do Comércio), tudo financiado graças a uma lei que desregulamentava os bancos. Em meio aos debates, um atentado contra a capital da República faz com que o senado entre em desespero e aprove o acréscimo de mais tropas, financiadas pelo Clã Bancário, a juros bem mais baratos graças a desregulamentação. Nestes acontecimentos, vê-se que o Clã Bancário ainda mantém seu escritório executivo de Coruscant, com seus representantes muuns.

Eu sou da seguinte opinião em relação a ficção científica: Por mais fantasioso e absurdo que seja, seus elementos tem que conter características que lhe tornem verossímil. Por exemplo: Nos filmes de terror sobre mortos-vivos - que por sinal estão voltando em alta - todos nós sentimos que um zumbi é uma impossibilidade, no entanto, se este morto que volta a "vida" adquire tal estado por meio de uma reação química ou por resultado de alterações fisiológicas causadas por um vírus, você consegue imprimir uma carga de verdade no fato, tornando a criatura um ser plausível.
Em contexto de guerra, como em The Clone Wars, o princípio deve ser seguido de forma a tornar a história mais aproximada da realidade, se torne verossímil, convença ao que assiste.
Mas o que temos visto na série é uma nova situação, onde os maiores inimigos da República Galáctica residem dentro de sua maior casa, o senado. Para que isso seja aceito de forma mais convincente, Dave Filoni permitiu que sua equipe de roteiristas transformassem a Federação do Comércio e o Clã Bancário (pelo menos até agora as únicas organizações da CIS que aparecem) em integrantes da República com seus representantes legais no senado, enquanto uma suposta banda podre em cada uma destas organizações era unida aos Separatistas, sob a liderança de San Hill e Nute Gunray.
Em uma visão geral, temos o Senador Rush Clovis, representante de Scipio e Delegado do Clã Bancário no Senado Galáctico, foi exposto como traidor e conspirador aliado a Confederação; o Senador Lott Dod, representante de Neimoidia e Delegado da Federação do Comércio, continuava no Senado alegando neutralidade da Federação, muito embora fosse um aliado da CIS; Gume Saam, Senador de Tibrin, também era afiliado a União Tecnológica, e conspirava com Lott Dod e o Escritório do Clã Bancário na pessoa de Nix Card, Representante Associado da organização; e diga-se de passagem que em meio ao conflito, após a queda de Rush Clovis, o senado também recebia a representação de Mak Plain que, juntamente com Nix Card, geriam o escritório do Clã Bancário em um edifício localizado no Distrito Financeiro de Coruscant, o IBC Arcology, com seu computador central. Notória também é a presença de alguns senadores de sistemas separatistas ou organizações associadas.

Em nenhuma situação real de guerra, situações como estas seriam permitidas. Em condições semelhantes, podemos citar como exemplo a população japonesa residente nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Os EUA, após a sua declaração de guerra contra o eixo, em 19 de fevereiro de 1942, pôs em prática a Ordem Executiva 9066, assinada pelo presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, que determinada que todos os americanos de origem japonesa, e imigrantes, mesmo sem ligação comprovado de colaboração com o eixo, fosse recolhidos em campos isolados no meio oeste americano. Eram campos de concentração mais "humanizados", se comparados aos campos alemães, russos e japoneses, mas que retribuía com a morte toda tentativa de fuga. Com apoio e incentivo dos EUA, muitos países da America Latina também deportaram seus cidadãos de origem nipônica, salvo o Chile e a Argentina. A idéia era a proteção dos países aliados, já que não se poderia confiar na sorte duas vezes, tento em vista que o ataque japonês a Pearl Harbor, teve colaboração de espiões civis radicados nos EUA. Só em The Clone War se vê tamanha condescendência com a presença de senadores e sistemas suspeitos dentro da República, que em condições mais verossímeis, estariam no mínimo sob investigação.
Jamais se poderia aceitar uma suposta neutralidade da Federação do Comércio e do Clã Bancário nas Guerras Clônicas, se estas duas organizações estivessem declarando-se fiéis a República, mas mantendo uma relação com a CIS, ainda que apenas comercialmente e financeiramente, nos termos do Tratado de 1641 BBY. Em um estado de exceção em que vivia a República, nenhum direito teria qualquer corporação que se declarasse neutra, mas ajudasse a ambos os lados da guerra, sendo residente e possuindo uma cadeira para falar por si em sua maior casa representativa. Seria um absurdo! Direitos fundamentais seriam suspensos por todo o período de guerra, e o Tratado de 1641 se tornaria sem efeito temporário.

Alguns fatores na própria saga, mostram a impossibilidade lógica do que é apresentado em The Clone Wars. Toda a República sabia, por testemunho pessoal de Obi-Wan Kenobi, de que os conglomerados, guildas e associações de comércio assinaram o tratado de união com os Separatistas e a Carta de Secessão. Isso foi ratificado no Senado, quando do discurso de Jar Jar Binks, Representante de Naboo, ao fazer a defesa da ampliação dos poderes executivos do Supremo Chanceler, quando diz:
"It's a clear desa Separatists made a pact witha desa Federation du Trade. Senators! Dellow felegates! In response to this direct threat to the Republic, mesa propose that the Senate give immediately emergency powers to the Supreme Chancellor!"
Na ocasião, todo o senado aprova e reconhece a verdade sobre a ameaça separatista, e outorga os novos poderes ao seu presidente, sem qualquer oposição de representantes corporativos ou de sistemas supostamente leais.
Era sabido que toda a Frota Separatista e todos os meios de guerra da Confederação eram de fabricação e financiamento da Federação do Comércio, Clã Bancário, União Tecnológica, e o Sindicato Comercial. É absurdo esta aceitação anormal de que sejam vistos, por exemplo, naves de fabricação neimoidiana, ou dróides de batalha do modelo B1 engrossando as fileiras da CIS, enquanto um senador como Lott Dod possui voz e voto em Coruscant.
Imaginem a seguinte situação hipotética: Durante a Guerra Civil Americana (1861-1865), o Exército e a Marinha Confederados, que se mantinha roubando e pilhando armas e munições em suas vitórias e capturando navios da União e artilharia que antes pertenciam a esta, quando os estados do sul ainda estavam unidos a Washington. Tendo em vista este cenário, sabemos que os estados confederados eram pouco financiados e dispunham de recursos limitados, bem diferente da CIS. Mas digamos que durante a guerra, a Spencer Company e a Burnside Rifle Co., que fabricavam o rifle de repetição Spencer para o Exército da União, passassem a fornecer armas também aos Confederados, alegando apenas relações comerciais,que faria o Congresso Americano? Uma investigação sobre o envolvimento dos donos das industrias com os confederados e uma futura intervenção não seriam levados a cabo? Certamente que sim!
A frota confederada era composta de navios capturados da União, comprados de países europeus e por produção própria, mas incipiente. Comparando-se a CIS, a República jamais aceitara que o Clã Bancário, por exemplo, lhe financiasse os clones, mas ao mesmo tempo vendesse aos Separatistas as fragatas Classe Munificent. Seria um disparate. O mais aceitável, seria admitir que sistemas fora da República e aliados a CIS, fizessem tais negócios. Na Guerra Civil Americana, a França e o Reino Unido por muito pouco entraram na guerra como inimigos da União, por dar apoio indireto aos Confederados. Na situação fictícia de Star Wars, as Guerra Clônicas se expandiriam para além de suas fronteiras, o que poderia ser uma realidade aceitável.  Seria ridículo imaginar que, digamos, portos estatais da União passassem a fabricar navios de guerra para os estados do sul, ao passo que fabricasse para os estados da União. Tais situações sofreriam intervenção federal, ou até mesmo uma ocupação militar.

Mas em The Clone Wars, as contradições entregam a sua condição. No caso de Rush Clovis em Cato Neimoidia, qual a razão dos esquemas em secreto para financiar a nova fábrica de dróides em Geonosis, e o Clã Bancário era neutro na Guerra? Faz sentido toda aquela operação secreta? Se tudo devera ser mantido em segredo, é pelo fato de que a Rep'blica agiria imediatamente caso fosse comprovada a derrama de recursos financeiros para o esforço de guerra da CIS. Mas os roteiristas furam ao tornar a convivência entre o Senado, a Ordem Jedi, e as associações comerciais como algo legal e aceitável dentro da República. A verdade é que toda a neutralidade da Federação do Comércio e do Clã Bancário deveria ser posta em dúvida desde o começo, sofrendo intervenção estatal. Caso contrário, como em Star Wars Episódio II - O Ataque dos Clones nos faz entender, tais organizações e sistemas estelares deveriam deixar a República imediatamente, mesmo que tais sistemas ainda mantivessem representantes verdadeiramente leais a República.
Tendo como exemplo a Guerra Civil Americana, todos os senadores e deputados confederados, deixaram Washington, para se unir exclusivamente a Richmond, capital confederada. A CIS, em todas as suas composições, de forma mais convincente do que se tem visto, deveria permanecer fora do Senado, e deixando uma posição extremamente vulnerável e estrategicamente perigosa. Em situações reais, a CIS teria suas linhas de suprimentos cortadas por completo, eliminando totalmente qualquer predição de vitória na Guerra. Uma das declarações mais ridículas quanto a isso, é o texto de Lott Dod ao afirmar que:
"It has come to our attention that the ugly head of the Separatist has once again raised itself in the ranks of our very own Trade Federation. Nute Gunray's influence extends farther than we ever imagined."
Como afirmar isso no Senado se o próprio Vice-Rei da Federação é um separatista declarado? Como afirmar isso, na tentativa vã de convencer a todos os senadores de inocência da Federação no caso do Bloqueio de Pantora e do sequestro das filhas do Barão Papanoida, se esta organização era responsável por equipar toda a frota e o exército dróide? Fica mais absurdo ao lembrarmos a declaração do senador de Neimoidia, no caso do Cerco de Ryloth e da visita de Bail Organa a Toydaria:
"We have nothing to do with the Separatists. Nute Gunray is an extremist. His views do not reflect those of the Trade Federation."
Com todos estes fatos, para mim, fã da Saga e apreciador da série The Clone Wars, estes furos são demais irreconciliáveis para os roteiristas inventem Tratados de Comércio para justificar a presença ativa de separatistas no Senado Galáctico. É uma situação muito pouco verossímil, e que somente passa despercebido aos olhos infantis, ou de pessoas menos familiarizadas com as fontes de inspiração da Saga, ou das dinâmicas político-econômicas no mundo real, aceitando assim, com mais facilidade, os Inimigos por dentro do Senado.

Um comentário:

  1. Olá Demetrius!!!
    Encontrei seu blog por acaso quando buscava um modelo de gadgat, mas achei interessante o blog e por ter a formação como psicóloga interessei nas matérias.....
    Espero que tenha gostado do meu também, parabéns pelo trabalho...
    Abraços...
    Fabrícia Reis.

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